Minha filha, uma das misérias que torna pouco felizes, ou de todo infelizes, as almas é se contentarem em praticar as virtudes com negligência e sem fervor, como se fossem coisa de pouca importância e casual.

Por esta ignorância e mesquinhez de coração, são poucas as que chegam ao íntimo trato e amizade com o Senhor, o que só se alcança com amor fervoroso.

Chama-se fervente ou fervoroso porquê, semelhante à água que ferve no fogo, assim este amor com a suave violência do divino incêndio do Espírito Santo eleva a alma acima de si mesma, de suas obras e de toda a criação. Amando, mais se acende, e do mesmo amor lhe nasce insaciável desejo, pelo qual não só despreza e esquece as coisas terrenas, mas tudo quanto é bom ainda não chega a satisfazê-la. E, como o coração humano, quando não consegue o que muito ama, mais se inflama no desejo de o alcançar por novos meios, assim se a alma tem fervente caridade, sempre acha o que desejar e fazer pelo amado, e tudo quanto faz lhe parece pouco.

Deste modo, procura e progride da boa à perfeita vontade, e desta à de maior conformidade com o Senhor, até chegar à perfeitíssima e ín­tima união e transformação em Deus.

Extraído de: Mística cidade de Deus, Maria de Ágreda – p. 254