Quando o corpo de São Pedro foi levado para o sepulcro, na Colina do Vaticano, um cristão anônimo recolheu as duas desgastadas sandálias de couro com as quais o Apóstolo havia percorrido distâncias incomensuráveis de estradas poeirentas e de calçadas romanas, difundindo por toda parte o nome de Jesus.

Um par de velhas sandálias de couro estropiado… o que poderia haver de mais insignificante? Aquelas, entretanto, foram conservadas como valiosas relíquias, pois haviam protegido os pés do grande Papa e Mártir, o primeiro Vigário de Cristo na terra.

Uma delas, a direita, foi levada para Jerusalém e ali permaneceu junto com outras preciosidades até 614. Nesse ano, as perseguições dos persas obrigaram um sacerdote a levar para Alexandria todas essas relíquias encerradas em uma arca. Posteriormente, à medida que os inimigos da Fé progrediam no norte da África, os cristãos foram levando essa arca de cidade em cidade. Assim, em 812 chegou ela a Oviedo, no extremo norte da Península Ibérica.

Ali o Rei Afonso II, o Casto, um dos primeiros sucessores do intrépido Dom Pelayo, mandou construir a famosa Câmara Santa da Catedral de Oviedo para acolher a preciosa arca que, por respeito, era mantida fechada.

Assim permaneceu ela até 13 de março de 1075, quando foi aberta em presença do Rei de Castela, Afonso VI, bispos, abades e numerosos personagens da Corte. Seu conteúdo era realmente valioso: um pedaço da Santa Cruz, alguns espinhos da coroa cravada pelos algozes na fronte sacrossanta do Salvador e várias outras relíquias de menor porte. Todas foram expostas à veneração dos fiéis na Câmara Santa. Entre elas, a sandália de São Pedro, testemunha de tantos fatos gloriosos da vida do primeiro Papa.

(Publicado na revista “Arautos do Evangelho”, n. 46, Outubro 2005)