Nossa SraMarcos Eduardo Melo dos Santos – 2º Ano de Teologia

A paisagem é serena, quase monótona, porém, estuante de vida. Nas florestas tropicais tudo é generosidade. Abundância de vida, luz e calor. Sob a selva escondem-se maravilhas do reino mineral, da fauna e da flora. O verde reveste o panorama como um manto de esmeraldas, apenas entrecortado por um imenso caldal: é o Amazonas. O maior rio do mundo. Suas águas avançam em um suave murmúrio. Discretas, mas impetuosas, se diria invencíveis. Tão volumosas que fazem o próprio oceano recuar.

De fato, o Amazonas é o maior rio do mundo tanto em volume quanto em extensão. Possui mais de mil afluentes e forma uma bácia hidrográfica de 7 milhões de Km², o equivalente a Europa Ocidendal. Em alguns trechos atinge 100m de profundidade e 190 Km de largura. Um quinto das águas fluviais do mundo desembocam do Rio Amazonas e seu caudal equivale a soma do volume de água dos 10 maiores rios do mundo.  Nasce no Peru, a 160 Km do Lago Titicaca, aos pés do Nevado Mismi, a aproximadamente 5.000 metros de altitude, e após quase 7.200 km, dos Andes ao Atlântico,[1] desemboca em um Estuário de 330 Km, o qual possui a maior ilha marítimo-fluvial do mundo, a ilha de Marajó. Por esses predicados é chamado The River Sea, O Rio Oceano. É o Rio da Grandeza! Não somente por suas proporções. Até mesmo sua história nasce adornada pelos  louros da aventura e pelas glórias reais do maior império marítimo da História.

O império onde o sol não se punha

O Império de Carlos V foi verdadeiramente um dos maiores da Humanidade. Dizia o monarca espanhol que em seu Império o sol não se punha; e era real. No Continente Europeu, era soberano da Península Ibérica e Itálica, assim como de numerosas províncias flamengas e austríacas. Possuía domínios na África, Índia e em vários arquipélagos do Extremo Oriente. O imperador reinava também sobre a maior parte da América.

Um território tão amplo se devia em grande parte a um hábil corpo de exploradores que perscrutavam as riquezas destas longínquas terras. Um desses aventureiros foi Vicente Pizón. Segundo alguns historiadores, foi o primeiro cristão a contemplar o Amazonas ainda no ano de 1500. O imenso rio foi batizado pelo explorador de Río Santa María del Mar Dulce, em homenagem Àquela que lhe tinha protegido contra tantos perigos encontrados ao longo de sua expedição, graças a esta proteção ele, por fim, pôde conhecer o oceano de águas doces.

Todavia, não foi o primeiro europeu a navegar por toda extensão dessas águas, cujo tamanho, perigo e riqueza, eram ainda desconhecidos. Em 1541, Francisco Orellana (1490-1550) em demanda do lendário El Dorado, começou a exploração do rio sagrado que os Incas chamavam de Rio Orinoco , na Venezuela, riquíssimo em ouro. O descobridor penetrou na Amazônia deparando-se com um rio ainda maior que o Orinoco, podendo descrever uma incrível viagem pelo extraordinário emaranhado de afluentes.

Em certo ponto da viagem, Orellana travou um acirrado combate com mulheres guerreiras  que lhes disparavam flechas e dardos de zarabatana. Voltando a Europa, narrou o fato a Carlos V, que, inspirado nas guerreiras hititas da mitologia clássica as quais portavam arcos e montavam cavalos de guerra, passou a chamar o rio de Amazonas.

O explorador Orellana descreveu as amazonas do Rio sul-americano como: “Mulheres altas e adestradas ao combate. Habitavam casas de pedra e acumulavam metais precisosos”. Na verdade, era a tribo dos yaguas, indígenas que usam uma longa cabeleira e ainda hoje habitam a região da confluência dos rios Napo e Negro.[2] Diz-se também que o nome Amazonas é de origem indígena, da palavra amassunu, que quer dizer “ruído de águas, água que retumba”.

Vida em abundância

Sob essas volumosas e serenas águas encontram-se raras e extraordinárias riquezas. Mais de 3.000 espécies de peixes foram encontradas neste rio,  superando em variedade o Oceano Atlântico. Dentre elas, algumas se destacam pela beleza, como os peixes ornamentais, ou então, os botos: animais semelhantes aos golfinhos que atingem 2,6m de comprimento dotados de cores prestigiosas como o azul e o rosa. Menos simpático que os botos são as piranhas, terríveis peixes carnívoros. Ou ainda o Poraquê, um animal aquático que emana ondas elétricas de até 500 volts. Em suas águas também vive o maior peixe de água doce do mundo, o pirarucu, que possui cerca de três metros de comprimento e 200 Kg, enriquecendo com seu sabor o cardápio popular.

Outra curiosidade do Amazonas é o fenômeno da Pororoca, conhecido nos rios europeus como mascaret ou bore. Trata-se de uma elevação repentina de grandes massas de água junto a foz, provocadas pelo movimento das marés. Após o oceano ter suas águas empurradas cerca de 160Km pelo Amazonas onde a salinidade do mar é muito baixa, ao subir da maré, o mar invade o rio formando ondas que podem atingir seis metros de altura e cinqüenta quilômetros por hora. Esta poderosa vaga pode durar até trinta minutos. As águas do oceano adentram no rio arrastando árvores e embarcações. O rio recua ante a impetuosa vingança do mar, mas, em seguida, sereno e vitorioso, o Amazonas volta a seu curso normal depois do duelo com o Atlântico.

Uma realidade superior

As grandezas deste rio faz lembrar realidades superiores. De fato, toda criação é uma imagem dos seres espirituais e do mundo sobrenatural. O Amazonas poderia ser denominado como o rio da grandeza. Não só pelos seus títulos e predicados, mas sobretudo, pelo que representa da vocação dos povos que irriga. Quantos missionários verteram o seu sangue pela Fé junto àquelas águas? Inúmeros. E o resultadofoi  surpreendente. Hoje, as jovens nações da América Latina, com apenas 500 anos de história e 200 de independência, somam cerca da metade dos católicos no mundo. [3] Estas nações de etnia negra, índia e européia, além de unidas pela origem de seus idiomas, pela nova raça oriunda da miscigenação, também o são pela irmandade espiritual do batismo. Formam pela fé católica apostólica romana um só conjunto.

O Amazonas com suas riquezas  parece refletir como um enorme espelho as maravilhas postas pela graça de Deus na alma sul-americana.

Ele também simboliza algo ainda mais sublime. Uma realidade espiritual, ao mesmo tempo visível: A Santa Igreja Católica. Esta é como um vasto rio, de quase dois mil anos, feito com uma água puríssima e com sua nascente muito mais alta que a do Amazonas, pois nasceu do lado aberto de Nosso Senhor Jesus Cristo.

 A Igreja avança invencível na História, fecunda com suas ricas e férteis águas, todas as personalidades , nações e instituições. Quantos solos outrora áridos, graças a Ela, se tornaram férteis e têm dado à humanidade flores das mais belas e perfumadas, e produzido frutos robustos.  

Tudo de grandioso que se contempla na História e na civilização ocidental vêm deste canal de graças, desta fonte de bençãos da Igreja, que bem poderia ser considerada o grande Amazonas da humanidade. Pode-se sem dúvida aplicar a Ela esta frase da Escitura: “A sua bênção recobre tudo como um rio” (Eclo 39,27).

 

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BIBLIOGRAFIA

AMÉRICA DO SUL. Guia Ilustrado do Mundo. Rio de Janeiro: Reader’s Digest, 2003.

BARSA. Encilopédia Britânica. T. 3, São Paulo: Brithanica do Brasil, 1971. 

BBC. National Geographic. Documentário. Fresh Water.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=908&id_pagina=1 Acesso em: 7 jan. 2010.

TERRA ESPETACULAR. Ohio: Reader’s Digest, 1997.

 


[1] O equivalente a viagem de Roma a Nova York.

 

 

[2] AMÉRICA DO SUL. Guia Ilustrado do Mundo. Rio de Janeiro: Reader’s Digest, 2003. p. 21.

[3] Na América Latina vivem mais de 500 milhões de católicos segundo os dados do site do www.clerus.org da Congregação para o Clero. (Na Espano-américa cerca de 380 milhões e no Brasil 125 milhões, sem contar os católicos da América do Norte). No mundo existem cerca de 1,1 bilhões de católicos. Quase 70% dos católicos no mundo falam espanhol ou português.