Lucas Alves Gramiscelli – 2º Ano de Teologia
Há pouco tempo atrás, foi publicado, no ITTA Notícias, um artigo intitulado: “Como um bebê venceu Freud”. O seu autor comentava uma série de experiências realizada nos Estados Unidos, pelo investigador Paul Bloom, que provava cientificamente que as crianças de apenas seis meses já são capazes de fazer juízos morais. Esses estudos foram contra a doutrina de Freud, pois, esse afirmava que as crianças não sabem distinguir entre o que é certo e errado.
A essa notícia podemos acrescentar outra similar, publicada pela BBC Brasil. Se trata de um estudo feito no Canadá que se empenhou em avaliar a capacidade que crianças têm de mentir. Um dos resultados obtidos comprovava que 20% das crianças de dois anos, analisadas, foram capazes de faltar com a verdade.
Qual é, então, a lição que os “pequenos” dessas duas pesquisas teriam para nos oferecer? É simples, mas de extrema preponderância e atualidade: eles podem esclarecer a importância do pedobatismo. O recado, porém, desta vez não é só para Sigmund Freud.
Que relação tem tudo isso com o Batismo? “Este Sacramento é, por assim dizer, a porta pela qual entramos na comunhão da vida cristã, e, desde esse momento, começamos a obedecer aos Preceitos Divinos”.[1] Portanto, o que há de melhor do que, a partir da mais tenra infância, já crescer no reto caminho da Vontade Divina? Não é verdade que o juízo moral fica ainda mais iluminado e que a distinção entre o bem e o mal passa a ser mais aguçada, robustecendo, assim, a Sindérese?
A praxe de batizar crianças foi desde sempre um ensinamento da Igreja “por tradição apostólica, conforme no-lo garantem a doutrina e a autoridade comum dos Santos Padres”.[2]
Mas, há um motivo superior pelo qual esse mandato deve ser exercido. Vejamos: Sabemos que “a justificação é concedida pelo Batismo, sacramento da fé”.[3] E por isso declarou o Divino Mestre: “Se alguém não renascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3, 5). E em outro lugar: “Deixai vir a Mim os pequeninos, e não os impeçais, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 19,14). Assim, não parece que Nosso Senhor quisesse negar esse Sacramento às crianças. Ademais, certas narrações da Sagrada Escritura parecem mostrar que esse costume é de tradição Apostólica (ver: At 16, 15; At 16, 33; At 18, 8).
Entretanto, mesmo assim, há pessoas que dizem que o batismo só deve ser ministrado quando as crianças tiverem atingido o uso da razão e souberem o que recebem, pois, caso contrário, estaria cometendo-se um atentado à liberdade humana. A esses devemos perguntar: “se as crianças contraem as consequências do pecado original no momento da concepção, antes de qualquer ato humano consciente e responsável, porque não hão de ser capazes de receber igualmente, pelo batismo, os efeitos salvíficos da paixão e morte de Cristo, no mesmo estado de inconsciência?” [4]
A esse propósito, a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé pronunciou: “na realidade, a criança é uma pessoa muito antes de ser capaz de o manifestar mediante atos de consciência e de liberdade; e, como tal, pode já tornar-se, pelo sacramento do Batismo, filha de Deus e co-herdeira com Cristo. A sua consciência e a sua liberdade poderão em seguida, a partir do despertar de tais faculdades, dispor das energias infundidas na sua alma pela graça batismal”.[5] Mais adiante continua: “quando se pretende dizer que o sacramento do Batismo compromete a liberdade da criança esquece-se sobretudo que todo o homem, mesmo o não batizado, enquanto criatura, tem para com Deus deveres imprescritíveis […] Além disto, esquece-se que o Novo Testamento nos apresenta a entrada na vida cristã, não como uma servidão ou uma coação, mas como a acesso à verdadeira liberdade”. [6]
O Concílio de Trento anatematiza aqueles que afirmam que, pelo fato de não serem capazes de expressar um ato de fé, é melhor omitir o batismo de crianças. (Dz. 869).
Para deixar ainda mais saliente a razão pela qual as crianças devem ser batizadas, é só considerar os inúmeros benefícios que esse Sacramento traz consigo. Ao receber a graça Divina, que fica inerente na alma, uma espécie de luz destrói todas as manchas de nossas almas, e ademais, ela vem acompanhada pelo sublime cortejo de todas as virtudes. [7]
“Pelo Batismo, o cristão tem parte na graça de Cristo, cabeça da Igreja. Como ‘filho adotivo’, pode doravante chamar a Deus de ‘Pai’, em união com o Filho único”.[8] Portanto, ele se torna membro do Corpo Místico de Cristo, e é devido a essa íntima união, que podemos ressaltar o caráter da inerrância de juízo que possui o batizado inocente, pois ele estará radicalmente ligado Àquele que é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6).
Desse modo, “o batismo marca a entrada na Igreja, tornando-nos ao mesmo tempo aptos a participar, para além dos méritos de Cristo, cabeça desse corpo, no dogma da comunhão dos santos. Por que privar as crianças desse privilégio?” [9]
[1] CATECISMO ROMANO. Capítulo II: Do Sacramento do Batismo. Compilado por: PIRES MARTINS, Frei Leopoldo. Petrópolis: 1951. p. 224. n.4.
[2] Idem. p. 237. n. 31.
[3] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. n. 1992.
[4] Revista “Magnificat” – Portugal / Março de 2000 – pgs. 5-8.
[5] Instrução PASTORALIS ACTIO. 20 out. 1980. n. 20. O Sumo Pontífice João Paulo II, aprovou essa Instrução e ordenou que a mesma fosse publicada.
[6] Idem. n. 22.
[7]Cf. CATECISMO ROMANO. Capítulo II: Do Sacramento do Batismo. Compilado por: PIRES MARTINS, Frei Leopoldo. Petrópolis: 1951. p. 247.n. 49-50.
[8] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Idem. n. 1997.
[9] Revista “Magnificat” – Portugal / Março de 2000 – pgs. 5-8.
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