Millon Barros – 3º Ano de Teologia
Certo dia, um jovem veio pedir ajuda ao seu pároco. Tratava-se de um caso muito sério, para qual o rapaz não via remédio. Haveria uma reunião no próximo domingo, a respeito da doutrina católica, e esta conferência seria presidida por um orador muito famoso. Todos os seus amigos iriam, e ele não queria perder um evento de tamanha relevância.
Por isso, vinha ao sacerdote pedir que desse outro sacrifício para realizar, pois o do domingo ele não poderia fazer. Ao ouvir este pedido o Padre não entendeu a que se referia o rapaz. Aconselhou então ao rapaz que lhe explicasse melhor. A este pedido o jovem lhe disse: “É que a reunião será bem no horário do Santo Sacrifício da Missa. Deste modo, eu peço-lhe que me dê outro sacrifício no lugar do Santo Sacrifício do Domingo”.
Esse equívoco relatado acima muitas vezes pode ser o de muitas pessoas, e nem sempre tão jovens. A dúvida de nosso rapaz – e que talvez seja de muitas outras pessoas – pode expressar-se da seguinte maneira: Por que a Santa Missa é chamada de Sacrifício?
O grande problema deve-se à imprecisão do conceito de sacrifício. O que é na verdade um sacrifício? Para muitos o sacrifício é uma ação muito dolorosa que se deve realizar, e da qual não há meios de escapar. Este conceito é por demais simples e não mostra o real teor de um sacrifício, chegando assim a confundir as idéias das pessoas.
Segundo a doutrina católica, o sacrifício, em seu sentido mais estrito, é:
A oblação externa de uma coisa sensível, com certa destruição da mesma, realizada pelo sacerdote em honra de Deus para testemunhar seu supremo domínio e nossa completa sujeição a Ele.[1]
Este conceito aplica-se inteiramente à Santa Missa, o que faz deste augusto ato um perfeito e excelente sacrifício, denominado Santo Sacrifício da Missa.
Oblação externa: não é portanto um ato interior, o qual não é conhecido por ninguém. Pelo contrário a Santa Missa é uma oração oficial da Igreja, melhor dizendo, é a oração oficial da Igreja, centro e força vital do Corpo Místico de Cristo[2].
E que oblação… é o próprio Filho de Deus que se oferece nas espécies de pão e de vinho. Haverá oblação mais agradável a Deus do que o Seu próprio Filho bem amado no qual está todo o seu agrado[3]?
De uma coisa sensível: é de primordial importância para o homem que o sacrifício seja de algo sensível, pois sendo o homem composto de corpo e alma, o sacrifício deve atender também ao corpo e não apenas à alma. Na Santa Missa o que atende à sensibilidade do homem é o fato de oferecer-se o próprio Corpo e Sangue de Cristo nas espécies do pão e do vinho transubstanciados.
Com certa destruição da mesma: para ser um sacrifício em estrito senso, é necessário que aquilo que se oferece seja inteiramente destruído. É o que se dá na Santa Missa pela comunhão do sacerdote e dos fiéis do Corpo e Sangue de Jesus Cristo.
Realizada pelo sacerdote: é uma conditio sine qua non para a existência da Santa Missa, um sacerdote devidamente consagrado pela imposição das mãos de um bispo.
Em honra de Deus, para testemunhar sue supremo domínio e nossa completa sujeição a Ele: Não há ato que mais honre a Deus do que a Santa Missa. É a renovação incruenta, isto é, sem derramamento de sangue, do Sacrifício do Calvário, realizada pelo próprio Cristo na pessoa de seu ministro. Ao mesmo tempo, o homem é convidado a confessar sua total dependência ao Senhor, não deixando por isso de pedir-lhe ajuda e forças para vencer as lutas de nosso vale de lágrimas.
A Santa Missa é, pois, a mais bela expressão externa em honra de Deus, uma vez que é por Ele mesmo oferecido enquanto Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, constituindo assim o verdadeiro Sacrifício da Nova Lei seu sentido mais estrito e perfeito.
Saibamos, portanto, aproximarmo-nos deste Sublime Sacrifício, não como um fardo ou uma dificuldade, mas, pelo contrário, como um auxílio nas grandes dificuldades do mundo e de nossa vida particular. Acerquemo-nos da Ceia do Senhor com verdadeira Fé e piedade, sabendo que tudo, absolutamente tudo o que nós pedirmos a Ele, não nos negará, pois estas foram suas palavras: “qualquer coisa que pedirdes em meu Nome, será feito” (Jo 14, 13). Desta maneira não receberemos a recriminação de Nosso Senhor: “Ainda não pediste nada em meu nome…” (Jo 16, 24).
[1] ROYO MARÍN, Antonio. Teologia moral para seglares. Madrid: BAC, v. I, p. 286.
[2] Cfr. Ecclesia de Eucharistia, João Paulo II, 17 de Abril de 2003.
[3] Cf. Mt 3, 17
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