Ronaldo Baccelli
Quando rezamos o Credo, afirmamos em primeiro lugar que cremos em Deus. Mas quem é Deus?
A Fé Católica nos ensina que Deus é um ser perfeitíssimo, eterno e soberano, criador do céu e da terra. Ensina-nos que esse Deus é único e que não há outros deuses além dele.
A nossa fé também afirma que Deus é Uno e Trino. Ou seja, é um Deus em três pessoas iguais e realmente distintas: Pai, Filho e Espírito Santo.
O Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus. Essas três pessoas são um só Deus, porque todas as três têm uma só e a mesma natureza divina.
Esse mistério de um só Deus em três pessoas iguais e realmente distintas chama-se “Mistério da Santíssima Trindade”.
Um mistério revelado por Deus, contido nas Sagradas Escrituras
O mistério da Santíssima Trindade é um dos principais mistérios de nossa fé, e nos foi revelado por Jesus, no Novo Testamento.
Antes da Nova Aliança não se sabia que Deus é Uno e Trino, embora no Antigo Testamento, se encontrem algumas expressões que sugerem esse mistério da pluralidade de pessoas, por exemplo no Gênesis (1,26): “E disse [singular] Deus [Elohim]: Façamos [plural] o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. Também em Gênesis (3,22) lemos: “Então disse o SENHOR [YHVH] Deus [Elohím]: Eis que o homem é como um de nós [plural], conhecendo o bem e o mal.”
A leitura dos Evangelhos sinópticos nos faz ver que Jesus revelou esse mistério aos Apóstolos por etapas. Primeiro ele ensinou-os a reconhecer nele o Filho Eterno de Deus. Quando seu ministério estava chegando ao fim, Ele prometeu que enviaria uma outra Pessoa, o Espírito Santo. Finalmente, depois da Ressurreição, ele revelou a doutrina da Trindade em termos explícitos: “Ide, pois, e ensinai a todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19). A força dessa passagem é decisiva. Que o Pai e o Filho sejam duas Pessoas distintas se deduz dos termos, que são mutuamente exclusivos. A menção do Espírito Santo nessa série, é evidência de que se trata de uma terceira Pessoa. A expressão “em nome”, no singular, indica que as três pessoas têm uma só natureza.
Há muitas outras passagens nos Evangelhos que se referem a uma ou outra das três Pessoas em particular, expressando claramente a distinta personalidade e divindade de cada uma. Com relação à Primeira Pessoa, não é necessário esclarecimentos, pois é claro que o Pai é Deus. As passagens onde Jesus Cristo é mencionado como o Filho de Deus levam a concluir que ele tem uma personalidade separada do Pai. Assim, nos Evangelhos Sinópticos Jesus dá testemunho de sua natureza divina quando Ele declara que virá julgar todos os homens (Mt 25,31), pois para os Judeus o julgamento do mundo era uma prerrogativa divina e não messiânica. Ele é o Senhor dos Anjos, que executam suas ordens (Mt 24,31). Ele aprova a confissão de São Pedro quando este o reconhece explicitamente como o Filho de Deus, e declara que esse conhecimento se deve a uma especial revelação do Pai (Mt 16,16-17). Diante de Caifás, Ele não só se declara o Messias, mas respondendo a uma segunda pergunta distinta, afirma que é o Filho de Deus, sendo por isso acusado de ter blasfemado, fazendo-se igual a Deus, ofensa que não existiria se simplesmente se declarasse o Messias (Lc 22, 66-71). O Apóstolo São João é ainda mais explícito, pois afirma que o objetivo de seu Evangelho é estabelecer a Divindade de Jesus Cristo (Jo 20,31). No prólogo, o evangelista O identifica com o Verbo, o Unigênito do Pai, o qual desde toda a eternidade existe com Deus, e é Deus (Jo 1,1-18). A imanência do Filho no Pai e do Pai no Filho é declarada nas palavras de Cristo a S. Felipe “Não credes que estou no Pai, e que o Pai está em mim?” (Jo 14,10). Cristo expressamente afirma sua unidade de essência com o Pai: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30).
Com relação ao Espírito Santo, sua personalidade é claramente manifestada, por exemplo, nas passagens de S. Lucas (12,12): “porque o Espírito Santo vos inspirará naquela hora o que deveis dizer” e (24,49): “Eu vos mandarei o Prometido de meu Pai; entretanto, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto”, bem como em São Mateus (10,20): “Porque não sereis vós que falareis, mas é o Espírito de vosso Pai que falará em vós”.
Numerosas outras passagens do Novo Testamento atestam como era clara e definida a crença da Igreja dos tempos apostólicos nas três Pessoas Divinas, por exemplo em 2 Coríntios 13,13, São Paulo escreve “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós”. Com relação a Cristo, os Apóstolos empregam expressões que, para pessoas nascidas na fé hebraica, denotam necessariamente a crença na sua divindade, por exemplo a doxologia “A Vós seja dada glória pelos séculos dos séculos” (cf. 1Cr 16,36; 29,11; Sl 28,2, 103,31), é uma expressão de louvor oferecida somente a Deus. No Novo Testamento encontrâmo-la dirigida não só a Deus Pai, mas a Jesus Cristo (2 Tim 4,18; 2 Pd 3,18; Ap 1,6; Hb 13,20-21), e simultaneamente a Deus Pai e a Cristo (Ap 5,13; 7,10). Igualmente, nos deparamos com textos em que São Paulo afirma que em Cristo reside a plenitude da Divindade (Col 2,9); que antes da Encarnação Ele possuía a natureza de Deus (Fil 2,6) e que Ele “está acima de todas as coisas, Deus bendito para sempre” (Rom 9,5). Sobre o Espírito Santo, sua personalidade distinta se depreende de muitas passagens, como por exemplo (At 5,3;13,2; 15,28; 16.7 e Rm 15,30). Seus atributos divinos são afirmados em 1 Cor 2,10; 2,11; 3,16; 6,19; 2 Cor 3,8, Rm 8,9-11).
Mistério transmitido pela Tradição desde os Tempos Apostólicos
Também na Tradição, desde os primeiros tempos encontramos a doutrina da Santíssima Trindade, ensinada pela Igreja, contida na liturgia e professada pelos seus membros.
Em primeiro lugar notamos a fórmula do Batismo, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, sempre usada na Igreja Primitiva. A doxologia, ou seja a oração universal “Gloria ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo…”, expressa o dogma trinitário tão claramente que os arianos tentaram negar que estava em uso antes to tempo de Flaviano e Antíoco. Mas na história do martírio de S. Policarpo (A.D. 155), lemos “Com Ele, a Ti e ao Espírito Santo seja dada glória agora e para sempre” (Martírio de S. Policarpo 14; cf. 22). Também encontramos a doxologia em S. Hipólito, em S. Dionísio de Alexandria e em S. Basílio.
Nos escritos dos Padres da Igreja, a doutrina sobre a Trindade de Deus é formalmente ensinada. Por exemplo na primeira Apologia de S. Justino, em Atenágoras (Legatio pro Cristianis), em S. Irineu (Contra as Heresias), bem como nos escritos de S. Clemente de Alexandria e Gregório Taumaturgo. Por fim, nos argumentos contra os erros professados pelos hereges sobre a Santíssima Trindade, a doutrina de um só Deus em três pessoas iguais e realmente distintas foi sempre afirmada pela Igreja e pelos apologistas católicos.
(Continua no próximo post)
Revisão: G. de Ridder
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