Ir. Mariana Morazzani Arráiz
Na capital do Peru, a Igreja está celebrando o quarto centenário da subida ao Céu de um de seus mais ilustres filhos: São Turíbio de Mogrovejo, “protetor dos indígenas” e grande evangelizador da América espanhola.
Iniciaram-se as comemorações com a solene Eucaristia celebrada na Catedral de Lima pelo Cardeal-Arcebispo Juan Luis Cipriani Thorne, em 22 de janeiro, tendo como concelebrantes o Núncio Apostólico, Dom Rino Passigato, e todos os bispos peruanos.
De simples leigo a bispo, em poucas semanas
Turíbio nasceu de nobre família em Mayorga (Espanha), em 1538. Estudou Direito nas universidades de Coimbra e Salamanca. Tinha 40 anos e era Presidente do Tribunal de Granada quando, por indicação do Rei Felipe II, o Papa Gregório XIII o nomeou Arcebispo de Lima.
Apressadamente, quase que de um dia para o outro, elevou-se um simples leigo à dignidade de bispo da Santa Igreja. São assim as vias da Providência quando Ela decide realizar uma obra. Fez-se com o jurista Turíbio o mesmo que, pouco mais de mil anos antes, fora feito com o estadista Santo Ambrósio: em quatro domingos consecutivos, Turíbio recebeu as ordens menores; poucas semanas depois foi ordenado presbítero e, por fim, sagrado bispo.
O insigne jurista se faz catequista
São Turíbio de Mogrovejo chegou à sua arquidiocese em maio de 1581. De início teve de enfrentar a decadência espiritual dos espanhóis colonizadores, cujos abusos os sacerdotes não ousavam corrigir. O novo arcebispo atacou o mal pela raiz. Muitos dos culpados de intoleráveis vícios e escândalos tentavam justificar-se:
— Fazemos o que é costume fazer aqui…
— Mas Cristo é verdade, e não costume! — replicava ele.
Com energia e, sobretudo, com seu exemplo pessoal, pôs freio aos abusos, moralizou os costumes e promoveu a reforma do clero.
Em pouco tempo, o ex-jurista transformou-se num exímio catequista que evangelizava os indígenas com palavras simples mas ardorosas. Percorreu três vezes em visita pastoral todo o imenso território de sua arquidiocese, viajando incansavelmente milhares de quilômetros. Entrava nas cabanas miseráveis, procurava os indígenas fugidios, sorria-lhes paternalmente, falava-lhes com bondade em seus idiomas e os conquistava para Cristo.
Grandes atividades, intensa vida de piedade
As três visitas pastorais tomaram-lhe mais de dez dos seus vinte e cinco anos de episcopado!
Convocou e presidiu treze sínodos regionais de bispos. Regulamentou e aperfeiçoou a catequese dos indígenas, e fez imprimir para eles os primeiros livros editados na América do Sul: o Catecismo em espanhol, em quéchua e em aymara. Fundou cem novas paróquias em sua arquidiocese.
Tudo isso sem prejudicar em nada o ponto fundamental de todo apóstolo autêntico: sua própria vida espiritual. Chamou a atenção de todos os que conviveram com ele sua intensa vida de piedade, à qual dedicava diariamente muitas horas de oração e meditação.
Imensa alegria: “Irei à Casa do Senhor!”
Teve a inapreciável satisfação de converter milhares de indígenas e de crismar três santos: São Martinho de Porres, São Francisco Solano e Santa Rosa de Lima.
A morte o colheu no curso de sua última visita pastoral, numa pobre capela a quase 500 quilômetros de Lima. Sentindo aproximar-se a hora extrema, recitou o Salmo 121: “Enchi-me de alegria quando me vieram dizer: vamos subir à Casa do Senhor!” Expirou suavemente às 15:30h de 23 de março de 1606, uma Quinta-Feira Santa.
Bento XIII o canonizou em 1726 e João Paulo II o proclamou Padroeiro do Episcopado Latino-Americano em 1983.
(Revista Arautos do Evangelho – nº 51 – Março 2006)
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