Pai adotivo de Jesus Cristo, testemunho dos prodígios da Encarnação, homem justo, inteiramente dedicado ao serviço de Jesus e de sua santa Mãe, declarado Padroeiro da Igreja universal pelo Papa Pio IX.

S. José, filho de Jacó (Mt I, 15,16), neto de Matã, partícipe do sangue de David e, por conseguinte, descendente em linha direta dos maiores reis de Judá e dos mais ilustres entre os antigos Patriarcas; deve sua principal glória a suas virtudes e à sua qualidade de esposo da Santíssima Virgem.

Diz-nos a Escritura que S. José era homem justo, sendo este o maior elogio que se pode fazer de sua virtude, já que a justiça compreende todas as virtudes. Desposou a Santíssima Virgem, da qual bem sabia ter tomado a resolução de manter a virgindade, estando ele também, por conseguinte, na mesma disposição.

Residia ordinariamente em Nazaré, sobretudo a partir de seu casamento. Autores há que pensam ter ele se fixado anteriormente em Belém e Cafarnaum. Vivia do trabalho de suas mãos, pois que era artesão; é o que S. Mateus refere por faber.

São José foi fiel em corresponder aos desígnios do Padre Eterno, que o tinha encarregado conjuntamente da manutenção do Verbo feito carne e de guardar sua bem-aventurada mãe.

É o que levou São Bernardo a dizer[1]:

“Eis o servo fiel e prudente que Nosso Senhor estabeleceu para sua família, para ser o sustento e a consolação de sua mãe, seu pai provedor e seu digno cooperador na execução de seus desígnios misericordiosos na terra.

“Que felicidade para ele poder ver não somente Jesus Cristo, mas ainda ouvi-lo, tê-lo nos braços, levá-lo de um lugar a outro, acariciá-lo, abraçá-lo, nutri-lo, ser admitido a participar de seus admiráveis segredos, mantidos ocultos ao mundo!”

“Ó prodígio de elevação! Ó dignidade incomparável − exclama o piedoso Gerson[2], dirigindo-se a São José − a Mãe de Deus, a Rainha do Céu vos chama de seu Senhor; o Verbo Eterno vos chama seu pai e vos obedece. Ó Jesus! Ó Maria! Ó José! que formais na terra uma gloriosa trindade, na qual a Augusta Trindade do céu põe todas as suas complacências! O que podemos imaginar aqui embaixo de tão grande, tão bom, tão excelente!?”

É de se crer que São José tenha morrido antes do início da vida pública do Salvador. Não está presente nem nas bodas de Canaã, nem em outras circunstâncias da predicação de Jesus. Além do mais, na cruz, o Divino Salvador recomenda sua Mãe a S. João, o que não teria feito sem dúvida se ele estivesse vivo. Não é possível duvidar que o Santo Patriarca tenha tido a felicidade de expirar nos braços de Jesus e Maria. É por esta razão que São José é invocado para obter a graça de uma boa morte, além da presença espiritual de Jesus nesta hora decisiva da eternidade.

Diz-se que seu túmulo está no vale de Josafá, ao pé do Monte das Oliveiras[3], mas os Antigos não tratam disso. Não se mostram relíquias de seu corpo em lugar algum, mas tão somente alguns de seus móveis, e seu anel nupcial, que se julga existir em Pozzuoli, Nápoles, na Itália.

Além do mais, está guardado até hoje um “cinto de São José” na igreja de Notre-Dame de Joinville[4] trazido do Oriente pelo Rei São Luis e pelo senhor de Joinville, cuja descrição é a seguinte: “o cinto consiste num tecido de fio ou de cânhamo, bastante grosso e de cor acinzentado; tem um metro de comprimento e 35 a 45 milímetros de largura; uma fivela de marfim está presa na extremidade. Uma inscrição em latim informa ‘esta cinta é aquela com a qual se cingia José, esposo de Maria’”.

Quanto ao relicário que a continha, do século XIII, era de vermeil e, outrora incrustado de ricas pedrarias, expropriadas pela Revolução Francesa.

Seu nome está inscrito a 19 de março desde os mais antigos martirológios, embora sua festa se tenha iniciado a celebrar um tanto tardiamente.

A devoção particular tida por Santa Teresa muito contribuiu para aumentar a solenidade de seu culto. O assunto é abordado por ela no 6º capítulo de sua vida:

“Escolhi o glorioso São José como meu padroeiro e recomendo-me a ele em todas as ocasiões. Não me lembro de ter pedido alguma coisa a Deus por meio dele e de não ter sido atendida. Nunca conheci alguém que o invocasse e que não fizesse notáveis progressos na virtude. Sua credibilidade junto a Deus é de uma eficácia maravilhosa para todos aqueles que se dirigem a ele com confiança.”

São Francisco de Sales dedica uma de suas entrevistas espirituais (19ª) em recomendar a devoção a São José e a louvar suas virtudes, sobretudo sua castidade, sua humildade, sua constância e sua coragem.

Foi este santo objeto de uma infinitude de elogios da parte dos Santos Padres. Seus milagres são muito numerosos.

(Fonte: Les hommes illustres de la primitive Église ou Les hèbreux & les gentils qui furent les témoins immediats de Jésus-Christ et des Apôtres par l’Abbé Stéphane Maistre Paris : F. Wattelier et cie. libraires, 1874, pp. 46-53)

Tradução de Guy Gabriel de Ridder


[1] S. Bern., Sermo 2 super missus est. nº 16, p. 742

[2] Serm. de Nativit.

[3] Perto do sepulcro do santo ancião Simeão. Cfr. legitur apud Bedam “de locis Sanctis”, t. 6

[4] Joinville, comuna do leste da Franca na região administrativa da Champanha-Ardenas, no departamento de Haute-Marne.