ProfetaRafael Juneo Pereira Fonseca – 2º ano de Teologia

Nada mais atual para se abordar em um artigo que aquilo que pode estar acontecendo com você, caro leitor. É possível que em meio à voragem de suas ocupações, você esteja percorrendo os olhos por esta página à procura de alguma informação rápida para seu trabalho acadêmico, sua redação ou mesmo para aumentar seu conhecimento enquanto visita este blog. Eu convido-o, então, caso esteja com muita pressa, a deter-se um pouco mais nestas linhas para considerarmos o que pode estar acontecendo com você. Talvez, mesmo sem saber, esteja sendo vítima, agora mesmo, de um grande bandido que tem feito incontáveis vítimas em nosso século, influenciando mentalidades, comportamentos e estados de espírito: o “corre-corre”.

Entretanto, de onde surgiu este estado de espirito? Não será que o Homem foi sempre assim? Não teve que estar sempre correndo para viver?” Não, não foi sempre assim. E por quê? Porque, evidentemente, o progresso tecnológico é um dos grandes responsáveis pelo “corre-corre”, e é um fenômeno recente. Sobretudo, de nossos dias! Nunca houve tanto esforço para apressar as coisas como hoje. Tudo está ficando cada vez mais rápido. Bancos, cartões de crédito, computadores, internet, foguetes, aviões, motocicletas, carros, eletrodomésticos e… celulares, antes ninguém precisava deles, hoje ninguém vive sem eles… Assim, tudo hoje colabora para que o homem corra, corra, corra, corra… Para quê? Para onde?

Ao observamos o que existe em torno de nós vemos que para tudo existe um equilíbrio, uma proporção e uma harmonia. Por exemplo: Imaginemos que também a duração do dia e da noite começasse a correr, e em três horas o dia se fizesse noite, e esta, por sua vez, durasse apenas alguns poucos minutos. A desordem mundial estaria instalada. Pensemos, entretanto, numa conversa em que cada palavra demorasse dois minutos para ser ouvida. A vida seria impossível! Ou, se ao olharmos para algo, a imagem levasse dez segundos para ser vista… ou ainda, se o homem caminhasse à velocidade de um bicho preguiça… daí concluímos que tudo o que Deus criou tem proporções. Entretanto, o crescimento desenfreado da velocidade tem operado uma enorme transformação no homem quanto à sua capacidade de reflexão. Quando saímos de um determinado local para outro, em um automóvel a 100 Km por hora, quase não temos tempo de observar, de refletir, e assim emitirmos um juízo daquilo que vemos, pois quando percebemos algo e começamos a analisá-lo já aparece outra coisa e assim por diante. Até mesmo nas regras de produção cinematográfica, está a de não apresentar uma cena com mais de 6 segundos de duração… daí o aparecimento da “geração da imagem”, que pensa menos, reflete menos, tem menos capacidade de opinar e sustentar uma posição firme diante de uma determinada situação.

Assim, a degringolada cultural em que vivemos, a aversão a leitura, à meditação, à oração, às coisas espirituais e metafísicas e a tudo o que não corra e não produza sensações. A esse propósito, comenta o professor Plinio Corrêa de Oliveira: “A aversão ao esforço intelectual, notadamente à abstração, à teorização, ao pensamento doutrinário, só pode induzir, em última análise, a uma hipertrofia dos sentidos e da imaginação, a essa ‘civilização da imagem’ para a qual Paulo VI julgou dever advertir a humanidade 1”.

Outro aspecto que o excesso de velocidade produz é o desaparecimento das fórmulas de educação, cortesia e, por conseguinte, o trato amável e respeitoso, substituido pelo convívio pragmático, egoísta e até bruto, pois se “time is Money”, para quê nos determos em palavras e ações que não produzam lucro material? Assim, não é incomum que a sociedade do “corre-corre” acabe por gerar um tipo humano intemperante, febricitado e ávido de prazeres, pois, ao se correr para tudo, corre-se também para os prazeres. Alguém poderá se perguntar: “o que fazer para não se deixar levar pelas agitações da atualidade?” A chave da questão está na temperança.

Em nossos dias, a virtude da temperança é, de modo especial, uma virtude necessária ao homem cristão. Por quê? Porque é a temperança a virtude pela qual todos os atos e instintos do homem são moderados segundo a razão e a Fé. Com efeito, se o indivíduo é temperante, é capaz de degustar a situação legítima em que se acha e de nela encontrar felicidade. Se é, ou se deixa tornar intemperante, ele corre atrás dos prazeres e das sensações. É próprio do espírito “corre-corre” ter transformado em uma fonte de prazer intemperante até mesmo as coisas que, de si, não são deleitosas. Ou seja, a mania de estar imerso continuamente em sensações fortes, e de não querer viver na placidez de uma vida ordenada e comum. Essa mania é a extensão lógica da sede do prazer para a apetência de outras sensações em outros terrenos da vida, que criam o estilo do existir contemporâneo. É uma corrida atrás das sensações a propósito de tudo e de nada. Enquanto o homem temperante se defende delas, o intemperante vive apenas perseguindo-as e tentando sugá-las a todo custo.

Daí nascem, em larga medida, o desequilíbrio da sociedade hodierna, e a pseudo-alegria que uma pessoa do interior encontra quando chega na cidade grande, deslumbrando-se com as sensações fortes que esta lhe promete. Ainda que seja a emoção de quase se ver atropelado num acidente de automóvel. Ela volta para a sua cidadezinha e começa a contar para todo mundo como esteve num lugar onde os automóveis correm tão depressa que só faltou ela morrer debaixo de um.

Assim, é evidente que todo homem lucraria muito em inalar a felicidade da temperança, essa felicidade e tranquilidade de quem leva uma existência normal, calma, sem sensações, agitações e febricitações de uma atividade fecunda, enriquecida pela vida de oração. Por conseguinte, é infeliz o indivíduo intoxicado pela posição de espírito oposta e que se tenha tornado escravo da intemperança contrária à verdadeira felicidade.