Três destacadas figuras do mundo acadêmico foram unânimes em atribuir a nota “summa cum laude” à tese de Doutorado de Monsenhor João sobre o tema: “O dom de sabedoria na mente, vida e obra de Plinio Corrêa de Oliveira”.

Pe. Rodrigo Alonso Solera Lacayo, EP – Professor de Moral Especial no ITTA

No dia 22 de outubro, Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, defendeu sua tese de Doutorado Canônico em Teologia sobre O dom de sabedoria na vida, mente e obra de Plinio Corrêa de Oliveira, perante a banca examinadora da Escola de Teologia, Filosofia e Humanidades da Universidade Pontifícia Bolivariana de Medellín, Colômbia. Discorreu ele sobre esse dom do Espírito Santo, mantendo-se rigorosamente fiel ao ensino teológico, mas apresentando-o enquanto vivido por um personagem que se sobressaiu na História da Igreja Católica no século XX.fundador_02
A banca examinadora, formada por destacadas figuras do mundo acadêmico latino-americano , atribuiu à tese de Mons. João a nota máxima: summa cum laude.
Objetividade no procedimento seguido
No texto em que avalia a tese e justifica sua nota, frei Marcelo Santos das Neves, OP, expressou-se com o rigor e a clareza do carisma dominicano, voltado para a pesquisa da verdade:
“Nosso julgamento não atinge o âmbito subjetivo, mas permanece no plano objetivo. Assim sendo, constatamos duas coisas em particular: primeiro que, apesar da amizade e da devoção do ‘Autor’ por Plinio Corrêa de Oliveira (elemento e razão subjetiva do ‘Autor’), o seu pensamento e raciocínio não foram em nada prejudicados, visto ter ele apresentado textos que reforçavam suas intuições. Dito de outra forma, não se tratou somente de um testemunho pessoal, mas de um testemunho documentado. Em segundo lugar, dons e carismas são aplicados à pessoa e obra de Plinio Corrêa de Oliveira sempre de forma rigorosa e coerente”.
“Em suma, o ‘Autor’, sistematicamente, oferece ao seu leitor as razões de sua intuição: apresenta a doutrina (1ª premissa); ‘a mente, vida e obra’ de Plinio Corrêa de Oliveira, confrontando-as com a doutrina (2ª premissa); para, enfim concluir positivamente: em Plinio Corrêa de Oliveira estavam presentes o dom de sabedoria, assim como os carismas de profecia e discernimento dos espíritos (3ª premissa ou conclusão). Esta objetividade no procedimento seguido merece ser mencionada e louvada. Trata-se, no nosso modo de entender, de uma teologia da ‘mente, vida e obra’ de Plinio Corrêa de Oliveira”.
Equilíbrio no modo de expor
Pouco adiante, frei Marcelo Neves ressalta outra faceta dessa imparcialidade de julgamento de Mons. João: “O ‘Autor’ não só não perde de vista seus objetivos, mas, ainda, mantém aquele equilíbrio no expor e escrever que preserva todos os que de alguma forma não comungavam com o pensamento de Plinio Corrêa de Oliveira. Em suma, não se trata de um escrito contra alguém ou coisa (à exceção do vício e do pecado ao qual se opunha e se opõe sempre uma ‘contra-revolução’), mas a favor de alguém considerado virtuoso. O tato e a delicadeza que transpiram do texto são raros. Nenhum caráter polêmico. Acreditamos dever aplicar ao ‘Autor’ em vista desse seu procedimento o quanto ele diz no início do seu texto a respeito do dom de sabedoria; ou seja, ‘julgará e procurará ordenar tudo à luz das perfeições divinas’: e Deus não ofende! O que o ‘Autor’ fez foi seguir, ele mesmo, este impulso; dito de outra forma, submete e faz passar pelo crivo das perfeições divinas a ‘mente, vida e obra’ de alguém que estima e que marcou toda a sua vida. Faz obra de teólogo e não de simples cronista. A sua tese, também sob este aspecto é, e pode denominar-se, teológica. Preciosa”.
Teologia narrativa e teologia argumentativa
De seu lado, o padre Carlos Arboleda Mora destacou principalmente a importância da teologia narrativa na tese apresentada:
“Este trabalho situa-se no que hoje poderíamos denominar teologia narrativa, ao apresentar a vida de uma pessoa como testemunho de uma experiência, unida a uma teologia argumentativa, na medida em que essa experiência está expressa teoricamente em grandes teólogos da Igreja. Geralmente a teologia narrativa critica o modelo neoescolástico pelo caráter demasiadamente argumentativo, uma vez que deduziria das teses dogmáticas certas conclusões já implícitas, esquecendo-se alguns críticos que os mistérios da vida de Cristo ocupam em São Tomás um lugar importante.
[…]
“Este trabalho situa a narração da vida de Dr. Plinio Corrêa de Oliveira acompanhada da correspondente argumentação baseada em muito bons teólogos. Tem o intuito de mostrar que a história da salvação não se dá separada da história humana, que a experiência da Fé não se dá fora de uma existência que a interpreta e atua, porque ‘os crentes admitem, pois, que Deus trouxe a libertação nos seres humanos e através deles; os homens são relatos de Deus’” .
Importância do exemplo vivo
Afirma ainda o padre Arboleda que na tese de Mons. João “o enfoque biográfico chega a ser um instrumento de investigação qualitativo, porque se fundamenta na subjetividade como unicidade e especificidade. O método biográfico chega a ser experiência heurística e hermenêutica, pois permite entender e permite interpretar em outro contexto histórico a mesma experiência. Aqui pode ser então também um método de formação, como pretende o autor da tese.
[…]
“É, ademais, uma obra que permite uma dupla leitura. Sem as citações é uma obra para leitores mesmo não peritos nas complexidades da filosofia. Com as citações é uma obra para autores que queiram aprofundar-se neste tema cumprindo assim o objetivo de refletir teologicamente, mas também de formar para a vida de experiência e testemunho”.
Horizonte teológico do qual se deve considerar a obra de Dr. Plinio
Em suas considerações, outro membro da banca examinadora, o padre Alberto Ramírez Zuluaga, quis evidenciar de modo particular a originalidade do trabalho teológico de Mons. João, que apresentou aspectos inéditos da obra de Plinio Corrêa de Oliveira. Afirmou ele em seu parecer:
“Ter tido a oportunidade de conhecer o processo da elaboração da tese em sua última etapa foi, para nós, una verdadeira graça do Senhor, que me permitiu descobrir a transcendência teológica do objeto dessa investigação. Mons. João soube estabelecer magistralmente o horizonte teológico a partir do qual se deve considerar a obra de Dr. Plinio: a doutrina teológica e espiritual dos dons do Espírito Santo e, em geral, a pneumatologia com tudo quanto ela implica para a fundamentação do dom da sabedoria. Mas Monsenhor não realizou seu trabalho simplesmente como investigador de uma rica literatura, como é certamente aquela que Dr. Plinio nos deixou, mas também, e sobretudo, como testemunha fidedigna da vida desse grande homem, do qual me atreveria dizer, pela impressão que o testemunho de Monsenhor produziu em mim, que foi um dos maiores homens da História da Igreja nos últimos tempos, pelo que o Espírito de Deus tornou possível através de sua pessoa, de sua vida e de sua obra.
“É belíssima a tese teológica elaborada por Mons. João, que se pode resumir em poucas palavras: demonstrar, pela consideração da pessoa de Dr. Plinio, a relação indissolúvel que existe entre a inocência e a sabedoria. Também, naturalmente, assinalar a significação dos passos que se deve dar na vida para que se torne possível esta relação na existência de um homem: o caminho da dor e da entrega. Monsenhor nos mostrou, com efeito, que a sabedoria, como característica que define a existência de Dr. Plinio, só pode ser explicada em relação à inocência que o acompanhou por toda a sua vida. Só pode chegar a ser plenamente sábio quem é plenamente inocente. A explicação teológica utilizada por Monsenhor para definir Dr. Plinio poderia ser considerada como um belo comentário de uma das sentenças do Manifesto do Reino dos Céus, o Sermão da Montanha, de Jesus: quem tem mais capacidade para contemplar a Deus e olhar tudo a partir d’Ele é quem tem o coração transparente” (cf. Mt 5, 8).
“Tudo me é luta” – Tudo lhe foi sabedoria
O padre Alberto Ramírez prossegue, destacando o seguinte comentário de Dr. Plinio a propósito do livro da Condessa de Paris, intitulado Tout m’est bonheur (Tudo me é felicidade): “‘Se me fosse dado escrever minhas memórias, poderia intitulá-las ‘Tudo me é luta!’. Interna ou externamente, tudo me é luta; mas, morrendo, tudo me é glória […]. Se um homem redigisse com base na verdade o livro Tudo me é luta!, se a sua luta foi travada em favor do bem, ele mereceria o epitáfio tudo lhe foi glória!’. E Mons. João comenta: ‘Ora, conforme cada item, cada capítulo é, sobretudo, o que o conjunto desta tese patenteia, tudo foi luta e glória em Plinio Corrêa de Oliveira. Portanto, tudo lhe foi sabedoria’.
“Esta admirável conclusão é uma formidável tese teológica, uma afirmação fundamentada no testemunho da vida de um grande homem. Monsenhor desenvolveu passo a passo esta tese com uma lógica profunda e conseguiu realizar um belo tecido de ideias e palavras, de símbolos e sentimentos, num discurso teológico que é uma maravilhosa lição sobre a sabedoria e uma obra de arte teológica. A sabedoria é o dom que foi concedido a Dr. Plinio como ‘luz primordial’, não só para contemplar a Deus, mas para adquirir a capacidade de olhar tudo com o olhar de Deus, com os próprios olhos d’Ele. Ninguém, como Mons. João, seu filho, seu discípulo, podia explicar com tanto acerto esse segredo da vida e da obra de Dr. Plinio Corrêa de Oliveira”.


[1] Compunham a banca examinadora: o Pe. Carlos Arboleda Mora, orientador, Doutor em Filosofia pela Universidade Pontifícia Bolivariana, Mestre em História pela Universidade Nacional da Colômbia e em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Gregoriana, especialista em ecumenismo do CESNUR, de Roma, e professor de pós-graduação da Escola de Teologia, Filosofia e Humanidades da Universidade Pontifícia Bolivariana; o Frei Marcelo Neves, OP, teólogo do Studium Teologicum Bolognese, de Bolonha, Doutor em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Doutor em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade São Tomás (Angelicum), de Roma, e professor da Faculdade de Direito Canônico da mesma Universidade; e o Pe. Alberto Ramírez Zuluaga, Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Louvain, professor de graduação e de pós-graduação na Faculdade de Teologia da Universidade Pontifícia Bolivariana, e no programa de Estudos Bíblicos da Universidade de Antioquia, de Medellín. Presidiu o ato o Pe. Diego Marulanda Díaz, Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, e Decano da Escola de Teologia, Filosofia e Humanidades da Universidade Pontifícia Bolivariana.

[1] SCHILLEBEECKX E. Los hombres relato de Dios. Salamanca: Sígueme, 1995, p.62.