Marcos Eduardo Melo dos Santos
O homem nunca viverá sem “dogmas”.
Por mais que nos últimos séculos todas as verdades – mesmo das mais sacrossantas – afirmadas sem medo e sem jaça pareçam ser retrógradas e antipáticas, ainda é verdade que nossos contemporâneos não sabem viver sem elas.
Dogmas não eclesiásticos mas sim sociais, cujo domínio é aceito por tácita imposição e velada ameaça por toda a opinião pública mundial. Ai! daquele que queira destes “dogmas” discordar… Logo, é excomungado do vento da moda, queimado na fogueira do convívio social, perseguido pela inquisição do isolamento.
Dentre os “dogmas” não eclesiásticos que subjugam os homens iludidos pela atual liberdade de pensamento, o igualitarismo parece ser o mais tirano. Sim. Hoje, a liberdade e a fraternidade só parecem verdadeiras se encerram em si o princípio fundamental da igualdade.
Ser superior, estar acima dos outros por qualquer título que seja, significa subjugar, sorver do próximo algo de sua dignidade, qualificar o inferior com a tara de inepto. Em conseqüência, estar submisso significa carecer de personalidade, opinião e liberdade. Significa ser alienado. Dado a outro, de tal forma, que se abandona o que se tem de mais íntimo e de mais nobre do próprio ser: a inteligência e a vontade humana.
Há ainda quem diga que esta opinião em nada nega os princípios do catolicismo. Como argumentos usam eles dos princípios mais inefáveis. Afinal, o Apóstolo não aconselhou aos senhores de Colossos tratarem seus servos “com justiça e igualdade” (Col 4,1)? E as pessoas da santíssima Trindade não são idênticas (iguais) apesar de distintas?
O conceito de igualdade é assim paulatinamente baldeado para o sinônimo de dignidade. Só é possível respeitar a natureza humana ao se afirmar a igualdade entre patrão e empregado, pais e filhos, varão e mulher, homem e animal. Será isto o ideal da humanidade ou simples utopia ensinada por alguns?
Mas há Mestre que leciona de modo diverso. São Paulo afirma que “Cristo Jesus sendo de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens” (Fl 2,5-7). Neste passo, o Divino Mestre abandonou a mais sublime das igualdades para ensinar a beleza da obediência.
Seria demasiado superficial afirmar que o Salvador negou-se em ser igual ao Pai para em última análise deixar os arcanos da divindade a fim de gozar do igualitarismo completo para com os homens. Cristo sim abandonou a igualdade para “assumir a condição de escravo” de Deus Pai, quis Ele ser inferior de alguma forma às criaturas racionais, entregando sua vida em benefício daqueles que por nenhum mérito mereceriam a dádiva infinita de seu sangue adorável: “Jesus se fez obediente, até a morte, e morte de Cruz” (Fl 2,8).
Desde o momento da Encarnação até sua Paixão, Deus Filho ensinou através da obediência a beleza da hierarquia e a origem divina do princípio de autoridade (Cf. Jo 19,11). O Redentor assim o fez para que sejamos homens livres pela obediência e não nos submetamos outra vez à tirania do igualitarismo (Cf. Gal 5,1).
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