Continuação…
Sim! Há uma outra razão. Aquele seu primeiro “Fiat” não foi apenas uma resposta momentânea. Ao longo da vida de Nosso Senhor, Maria foi acompanhando sua existência com um longo e ininterrupto “Fiat”.
Vemos a cena do nascimento do Divino Menino Jesus, acontecimento passado, que está presente a brilhar em nossos presépios, constituindo os momentos mais felizes e inocentes de nossa vida nesta vale de lágrimas. Podemos imaginar com que cuidados, com que desvelo a melhor de todas as mães protegia seu Filho adorável contra as intempéries do clima agreste daquelas regiões do Oriente Médio, procurando dar-Lhe tudo o que seu Coração Imaculado e Maternal discernia em sua Face Sagrada.
Apesar do amor materno ser profundo, forte e caloroso, o de Nossa Senhora é muito maior que todos os que possam ter existido: “Maria era Mãe. Porém, que Mãe, e de que Filho! Era a Mãe mais perfeita, mais pura, mais fiel, mais terna, mais mãe, e do Filho melhor, mais perfeito, mais amável e mais filho.
“Era Mãe; porém, Mãe Virgem. Aqui se perde e se confunde o pensamento. (…) Quem pode compreender a riqueza de tal coração, em que os afetos contrários se multiplicam para produzir um amor supremo?
“Era Mãe, e Mãe de Deus: que novo abismo! (…) O amor materno e o amor divino reciprocamente se penetravam n’Ela, para formar o amor mais excelente, mais forte, mais justo, mais sagrado, mais natural, mais sobrenatural, o mais absoluto, em uma palavra, o mais maravilhoso de todos os amores.”[1]
Qual não terá sido sua aflição quando o Anjo aparece a São José num sonho dizendo que eles precisavam fugir para o Egito? Aquela Mãe tão carinhosa ver seu Filho em tão tenra idade objeto do ódio e da perseguição. Que dor não lhe terá assaltado quando tomou conhecimento do criminoso morticínio das crianças menores de dois anos por causa de seu Filho. Quanta dor! Isso não era senão um pálido prenúncio de tudo quanto Ela ainda teria de sofrer. Maria não titubeia, e não retira o seu “Fiat”.
Quando Maria vai ao Templo para apresentar seu Filho diante do sacerdote e escuta Simeão profetizar que o Ele viria a ser sinal de contradição e que uma espada trespassaria o Coração de tão terna Mãe[2], Ela entrevê o martírio horroroso pelo qual seu Divino Filho iria passar, e mais uma vez pronuncia o seu “Fiat”.
Não é concebível que Nossa Senhora ignorasse o que aconteceria com seu Filho. Ela conhecia todos os sofrimentos pelos quais, com sua aceitação, Ele iria passar. Entretanto, Maria não duvidou. Por amor a Deus e aos homens consentiu – em união com o Pai Celeste – em entregar seu Filho para resgatar a humanidade pecadora. E durante toda a vida Maria pronunciou claro e forte o “Fiat” que salvaria a humanidade.
Chega o momento bendito, glorioso e terrível. “Quando estava ao pé da Cruz, o Padre Eterno pediu-Lhe consentimento para que Nosso Senhor Jesus Cristo fosse morto. Ela que poderia ter dito não — o Padre Eterno estava querendo pôr nas mãos d’Ela o destino de seu Filho — disse sim. Disse sim para salvar as almas dos homens. Se Ele não morresse, não haveria Céu para nós.
Nessa hora em que Ela disse sim, Ele ficou entregue aos horrores da morte. Ela viu seu Filho dizer ao Padre Eterno: ‘Meu Pai, meu Pai, por que me abandonastes?’ O que tinha um pouco o sentido: ‘Minha Mãe, minha Mãe, por que consentistes?’ Mas Ela quis. E quando Ele expirou, o gênero humano estava redimido.”[3]
Maria demonstrou assim seu amor por nós quando aceitou entregar seu Filho Unigênito à ignominiosa morte na Cruz. “No altar do Gólgota, podemos observar três amores participando do mesmo sacrifício. Para a salvação do mundo, o Padre Eterno entregou seu Unigênito Filho, o Verbo Encarnado sua própria vida, e a Virgem seu Filho adorado. Não temos senão um único Redentor, o Cordeiro imolado sobre a Cruz; é justo. Mas, a Mãe admirável que O educou para o Calvário e que, chegado o momento, formada e preparada por Ele, O ofereceu por nosso resgate, num mesmo ideal de amor esta Mãe não tem direito ao título de Co-redentora?”[4]
Continua na próxima semana…
[1] NICOLAS, Auguste. La Virgen María y el plan de Divino. T. II. Barcelona: Librería Religiosa, 1866. p. 349 e ss.
[2] cfr. Luc. 2, 34-35
[3] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência para jovens. 21 out. 1989. Arquivo ITTA.
[4] BOULLAYE. H. Pinard de La. Marie, Chef-d’Oeuvre de Dieu. Paris: Spes, 1948. p. 115-116.
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