O sol apressa, como mais lhe agrada, o andamento das estações. Ao mesmo tempo em que Deus suscita santos que começam a ser vistos na sua maturidade, suscita por vezes outros prontos para serem colhidos desde logo para o céu. Tal foi São João Batista em sua natividade. No momento da Visitação recebeu num só ato a plenitude do Espírito Santo. Jesus criança opera, a partir do seio de sua Mãe, esta obra prima de santidade, que não fará maior em sua vida, nem depois de sua morte − pois que não se conhece após ele algum que tenha sido formado inicialmente na plenitude da santidade − como foi o Batista. Um dos motivos pelos quais a Igreja estabeleceu uma maior solenidade na Natividade deste santo do que em sua morte é devido (além de sua santificação) a esta plenitude de graças que ele recebeu.

Se o compararmos com o conjunto dos demais santos, por exemplo, São Pedro, São Paulo, verificamos que o dia de suas respectivas festas é o da sua morte, pois que eles empregaram o curso da vida toda a trabalharem até a última hora para adquirirem o ápice das graças; enquanto São João, no dia da Visitação recebeu de uma só vez, uma medida fora do comum.

Concedendo assim a São João a graça de Precursor, Maria já se mostrava como sendo Mestra e Rainha dos Apóstolos.

Com efeito, São João teve que realizar sozinho durante a vida, as funções dos doze apóstolos e estes só foram chamados após ele, como sucessores de sua função, para anunciar e tornar conhecido Nosso Senhor. Foi este mesmo santo que transmitiu a primeira lucidez referente a Jesus Cristo a Santo André, e, por meio deste a São Pedro, o Príncipe dos Apóstolos e aos demais discípulos que ele enviava a Jesus; os quais, posteriormente tornaram-no conhecido no mundo todo.

Recebendo, pois, por Maria a graça de precursor de Jesus Cristo, a graça de torná-lo conhecido por todos, São João tornou-se a voz de Maria, órgão de sua graça e de seu amor.

Assim, Maria é a Rainha dos Apóstolos, e num certo sentido, a mãe de nossa fé.

Na santificação de São João Batista Maria exerceu a primeira das duas funções do apostolado, que são de levar o conhecimento do Senhor e a santificação das almas. Ensinai a todas as nações, disse Nosso Senhor, e batizai-as. Ensinai caracteriza a fé e a luz que os homens apostólicos devem levar por toda a parte; batizar significa a santificação dos corações.

Eis o ministério preenchido pela Santíssima Virgem, fornecendo, pela eficácia de sua palavra nesta ocasião, o conhecimento do Salvador a Santa Isabel, bem como a São João, o qual, além do mais, ela santificava. Sua palavra produziu nele as palavras sacramentais do Batismo; mais ainda, pois que, conforme a observação de Santo Ambrósio, São João recebeu não uma graça de infância, como a que recebemos no batismo, mas uma graça de perfeição, que começou na idade da plenitude de Jesus Cristo(*)

(*) S. Ambros. Expos. Evang. Luc., lib. II, tom. 1, col. 1291. Neque ullam infantiae sensit aetatem, qui supra naturam, supra aetatem, in utero situs matris, a mensura perfectœ coepit aetatis plenitudinis Christi.

Tal é o efeito do sacramento da Crisma nos cristãos, os quais, esclarecidos pela fé, recebem a plenitude dos dons do Espírito Santo, que os possui, os rege e os consome na perfeição de seu santo amor.

Assim, qual não terá sido a santidade, a força, a inocência, a penitência, o amor, a humildade de São João Batista?! Sua vida, sua constância nos perigos e sua morte bem que dão-lhe suficiente testemunho.

Assim, a Santíssima Virgem é como o sacerdote e pontífice que batiza e confirma este grande santo, e lhe dá a plenitude do espírito de Jesus Cristo, proporcionada à missão que teve que preencher no mundo. Bem se vê por aí que, se tão logo que esteve no seio de sua Mãe, Nosso Senhor levou, por meio dEla, a São João o espírito de precursor, o espírito apostólico, foi para nos fazer sentir, de maneira exterior e sensível, esta verdade consoladora: que sendo devedor da sua vida humana a Maria, somente por meio dEla quer conceder suas graças e seus dons.

A ordem que Ele seguiu na santificação de São João Batista, Ele a seguirá sempre. O primeiro dos efeitos da graça que Ele produziu constitui a regra de todos os demais; tendo comunicado primeiramente sua graça por Maria, será também por Ela que a concederá à Igreja no correr dos tempos.

Vie intérieure de la Très-Sainte Vierge. Coletânea dos escritos de M. Olier, Fundador da Congregação dos Padres de Saint-Sulpice, França.

Editions Saint Remi, 2012 Cadillac, França. Cap. VI, pp. 74-76

Seleção e tradução: Guy Gabriel de Ridder