Frederico Ozanam Carvalho de Rezende (3º Teologia)
Um bebê em prantos simboliza a oração do necessitado. Algo lhe está faltando. A mãe solícita interpreta logo os anseios da criança: terá sede ou talvez um pouco de frio, padecerá de fome ou quiçá de uma pueril solidão… De maneira análoga, entre Deus e nós acontece o mesmo. Somos crianças plangentes que dirigem ao Pai algumas súplicas e invocações. Porém, estará Ele atento aos nossos rogos? Dir-se-ia, segundo ensina São Tomás de Aquino (Cf. Suma Teológica II-II. q.83, a.2), que às coisas humanas não compete o que toca nas coisas divinas, pois rezar é elevar a mente a Deus. E mantendo sua posição, o Aquinate se apoia nas palavras do profeta Malaquias: “Dissestes que é inútil quem serve a Deus” (Mq 3,14). Logo, sendo eu inútil até mesmo para prestar culto a Deus, quanto mais ao dirigir-Lhe uma prece terrena e imperfeita. A minha oração, por conseguinte, não poderia influenciar em nada o curso dos acontecimentos, assemelhando-se a um solitário grão de areia que se perde na imensidão do oceano.
Portanto, parece que não é necessário rezar. E, corroborando com essa ideia, acrescenta São Mateus: “O vosso Pai sabe daquilo de que careceis” (Mt 6, 8). Se Deus já sabe do que necessitamos, de nada adiantaria fazer uma oração Àquele que tudo vê, perscruta, discerne e sabe. Em tese, Ele já dispôs as coisas de tal maneira que, em minha vida, nada deveria faltar. Porém, é o próprio São Tomás que, pela pluma de São Lucas, dá um argumento que contrapõem o dito anteriormente: “É necessário orar sempre sem jamais desanimar” (Lc 18,1). Temos, agora, a imperiosa advertência de nunca abandonar a oração. Como desvendar esse enigma?
A resposta é simples e remonta ao inicio deste artigo. Quando a criancinha não reclama, não chora, sua progenitora logo transborda em inquietações e preocupações. “Estará meu bebê adoentado? Não me pede leite, não reage a nada que lhe digo ou faço. Melhor será chamar um médico…” Em sentido oposto, quando pedimos a Deus alguma graça ou favor – Ele na sua infinita liberalidade e sem alterar em nada seus providenciais planos – nos concede indubitavelmente tudo quanto pedimos. Ensina São Gregório Magno que: “Pedindo, os homens mereçam receber aquilo que Deus onipotente determinou conceder-lhes desde a eternidade”. Logo, sabendo Deus de nossas insuficiências e carências, deseja ser como uma Mãe que se compraz em escutar a criança que chora, deitando atenção sob nossos soluços e ansiedades para, assim, saciar-nos com os manjares celestiais.
É de Santo Afonso Maria de Ligório a célebre frase: “Quem reza se salva, quem não reza se condena”. Assim sendo, rezemos muito. No entanto, alguém pode objetar: “Está muito bem, eu rezo. Porém, devo rezar muito ou pouco? Não tenho muito tempo disponível.” Respondemos: Meu caro, reze. Reze como puder, reze na medida em que as possibilidades lhe permitam. Reze bastante, mas reze! Não foi em vão que o próprio Jesus nos ensinou: Pai Nosso, que estais no Céu…
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