Marcos Eduardo Melo dos Santos – 2º Ano de Teologia
Alvejando à luz do sol tropical durante o dia ou refulgindo com suas paredes iluminadas em meio à quente noite carioca, o pequeno templo bem parece uma jóia, ou um inocente brinquedo esquecido sobre um dos morros da Baía de Guanabara.
Existem alguns panoramas privilegiados, de beleza tão extraordinária e atraente que, ao contemplá-los, não poucas pessoas, tomadas de arrebatamento, pensam: “Ah! Pudesse eu viver aqui para sempre, inebriando-me todas as manhãs com este maravilhoso cenário!”.
Entre essas excepcionais paisagens encontra-se, sem dúvida, a magnífica Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
A beleza do local deslumbrou os portugueses desde quando chegaram a estas terras e, em especial, certo homem chamado Antônio de Caminha, natural de Aveiro. O grandioso panorama certamente lhe evocava o Deus Criador, artífice de tal maravilha. Buscando viver incógnito e solitário como um ermitão, Antônio, em 1670, refugiou-se numa gruta do chamado “Morro do Leripe”, para lá viver em oração e contemplação.
Dotado de talentos artísticos, esculpiu ele mesmo uma imagem da Virgem Maria, a qual, sob a invocação de Nossa Senhora da Assunção, ou da Glória, venerava em sua ermida. Com o passar dos anos, o local começou a atrair a devoção de outros fiéis, que acabaram por constituir uma fervorosa irmandade em torno da veneranda imagem. Posteriormente, edificaram nesse mesmo local uma pequena capela de taipa.
Décadas depois, tendo essa devoção crescido entre os habitantes do Rio, nasceu o desejo de erigir uma igreja, em substituição à capelinha original, que já se encontrava deteriorada pelo tempo. Sob a direção do arquiteto Tenente-Coronel José Cardoso Ramalho, a construção foi concluída em 1739. Neste mesmo ano, Dom Frei Antônio de Guadalupe, Bispo diocesano do Rio de Janeiro, instituiu canonicamente a Irmandade de Nossa Senhora da Glória.
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Um grandioso panorama natural, como o da Baía de Guanabara, mereceria ser complementado por uma obra arquitetônica de vastas dimensões. Entretanto, mesmo um edifício singelo e, por assim dizer, virginal — como a Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro — pôde aprimorar, com seu discreto encanto, a fabulosa beleza posta ali pelo Criador.
Alvejando à luz do sol tropical durante o dia ou refulgindo com suas paredes iluminadas em meio à quente noite carioca, o pequeno templo bem parece uma jóia, ou um inocente brinquedo esquecido sobre um dos morros da Baía de Guanabara.
A bucólica igrejinha faz parte dos tesouros da arquitetura barroca no Brasil. Suas características paredes brancas, emolduradas por pedras de granito, podem ser vistas de toda a planície do Aterro do Flamengo. Dois octógonos irregulares, alongados e interligados, compõem a nave central e a sacristia. Sobre eles paira a torre, de quatro faces, encimada por uma cúpula em forma de bulbo.
Transpondo as austeras portas de jacarandá, chamam a atenção do visitante as colunas de cantaria, primorosamente talhadas, e os azulejos portugueses ilustrados com temas bíblicos. Os três altares, em estilo rococó, são obra de Inácio Ferreira Pinto, e sobre o arco da capela-mor encontra-se o escudo da Família Imperial Brasileira.
Em 1937, a Igreja de Nossa Senhora da Glória foi declarada Monumento Nacional, e em 1950 o Papa Pio XII conferiu-lhe o honroso título de Basílica Nacional da Assunção. ²
(Revista Arautos do Evangelho, dezembro de 2008, nº 84)
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