Thiago de Oliveira Geraldo
Na praça de uma pequena cidade a vida está regozijante, pessoas de todas as idades ali se instalam para desfrutar de um sábado ensolarado. Já no final da tarde, enquanto o sol vai lentamente caindo e a formosa lua começa a espargir sua diáfana luminosidade sobre os habitantes da região, as brincadeiras das crianças cessam e os adultos já pensam em seus jantares. Quatro jovens reúnem-se em torno da fonte que ejeta abundante água pela boca de um leão de pedra.
Os rapazes contam com a idade de 15 anos e, como é comum acontecer, já estão preocupados com o futuro. Quatro jovens que até aquele momento levaram uma vida aparentemente normal e sem muitas variações. Eles olham ao redor e observam as crianças que vivem despreocupadamente e nem se dão conta do que lhes espera no futuro, mas especialmente estão atentos a atitude das pessoas maduras e vêm-lhes à mente a seguinte pergunta: o que será de meu futuro?
É uma pergunta razoável para quem está prestes a enfrentar as agruras da vida e ainda não sabe como resolver os problemas. Mas no fundo, aqueles jovens tinham um desejo implícito de felicidade a qual todos buscam, mesmo que por caminhos diferentes.
Tendo distintas personalidades, cada um deles afirmou que seria bem sucedido na vida. Então começaram a mostrar seus planos para o futuro.
O primeiro logo afirmou: “Eu serei um esportista. Possuindo saúde nada me faltará e terei muitos anos de vida que me garantirão bem-estar. E mesmo quando me tornar velho, causarei inveja nos jovens que virem minha força”. Outro, porém, lhe replicou: “Deixa de tolice. Você vai gastar o melhor de sua vida fazendo exercícios? É um louco. Eu vou ganhar muito dinheiro com o comércio e terei um futuro garantido e cheio de prazeres”.
Um terceiro que estava recostado na fonte, tomou a palavra e disse: “A saúde só dura até a morte e o dinheiro serve apenas para ser motivo de brigas quando tiverem que dividir a herança. Há uma coisa que adquirindo ninguém mais pode nos tomar: o saber. O conhecimento passa a fazer parte de você e abre diante si um caminho infinito. Eu já me decidi, vou ser um grande intelectual, pois a inteligência está acima da força física e sua influência é maior do que poder financeiro”.
Por último, tinha ainda um jovem que não havia se pronunciado. Ele esfregava sua fronte em sinal de indecisão, mas afinal resolve falar: “Olha, eu não sei o que vocês vão pensar, mas eu quero ser religioso. Eu quero me encontrar com Deus e nada melhor que o silêncio e a contemplação. Eu serei um monge”.
No final desta longa conversa que foi madrugada adentro, eles resolveram fazer um pacto. Decidiram reencontrar-se naquela mesma fonte dali a quinze anos, quando todos estivessem com trinta anos de idade, para ver no que resultou o caminho escolhido por cada um. Despediram-se e foram para suas casas.
Depois deste encontro ainda se viram muitas vezes, mas nenhum deles tinha a coragem de retomar o assunto. Com o decorrer dos anos, tiveram que se separar e todos seguiram o caminho previsto até o dia marcado.
Quinze anos depois da primeira conversa, lá estavam eles reunidos. O esportista havia se tornado uma massa de músculos, calculava absolutamente tudo quanto haveria de gastar por cada quilograma ingerido e assim, manter um físico impecável. Já tinha ganhado vários torneios e não lhe faltavam patrocínios para seus empreendimentos.
Esboçando um corpulento e cínico sorriso, o comerciante era um homem seguro de suas posses e comandava centenas de empregados, os quais mais pareciam abutres ávidos de oportunismo. O intelectual não se preocupava com seu físico nem se suas roupas estavam na moda, bastava seu conhecimento para lhe transmitir estabilidade e fama. Autor de vários livros, ele era um renomado professor da melhor universidade da região.
O religioso se apresentou com o hábito característico de sua ordem. Sua fisionomia estava marcada pela austera vida monástica que levava. Interrogando-se mutuamente, cada um foi narrando suas experiências durante estes quinze anos. O esportista disse que a saúde lhe bastava, o mesmo ocorria com o comerciante ao reafirmar sua esperança na riqueza e nos prazeres, enquanto que o intelectual respirava o perfume da fama, que enchia seus pulmões com os gases tóxicos da vaidade. Ao chegar a vez do religioso de falar sobre o que havia encontrado no mosteiro, ele respondeu: “Eu encontrei Jesus crucificado”.
Os demais não entenderam esta resposta, pois cada um estava satisfeito com sua situação e pouco lhes importava este crucificado. Neste momento, passando próximo da fonte na qual estavam reunidos, veem um venerável sexagenário caminhando pela praça. Estava estampado em seu rosto certo desapontamento com a vida.
A cena foi tão impressionante para eles, que o intelectual lançou novo desafio: “Nós estamos discutindo por um assunto ainda não terminado. O homem não se mede pelo seu início nem pelo desenvolvimento, mas pelo produto final de suas ações. Somente quando formos capazes de olhar a mocidade e a maturidade que ficaram para trás é que veremos o resultado de nossas buscas. Reunamo-nos aqui quando completarmos sessenta anos e vejamos o que cada um encontrou”.
Todos assentiram com a proposta e lá se foram pelos vales e montes da vida, com suas dificuldades e alegrias, boas e más notícias, empreendimentos bem sucedidos e decepções inesperadas. Após trinta longos anos, os veneráveis senhores cumprem sua promessa e vão à fonte que ainda existe, mas cujo leão que jorra água pela boca já tem seu focinho gasto pelo tempo. Não era só o leão de pedra que estava gasto…
Suas fisionomias já não eram as mesmas, pois o tempo lhes deu a experiência que só se adquire com os anos. Cada um havia realizado o que tinha decidido em sua juventude: o esportista conservou a saúde, o comerciante era um homem opulento, o intelectual alcançou o conhecimento e o religioso encontrou a Deus.
No entanto, o primeiro se lamentava que seus joelhos já não respondessem como antes e que sua coluna não aceitava mais movimentos bruscos. O comerciante, cansado do duro trabalho, há muito que delegou a direção de seus negócios aos filhos, não querendo senão descansar de toda faina e preocupações, pois o médico disse que a qualquer momento poderia ter um infarto.
O intelectual tanto estudou que nem ele mesmo conseguia dizer o nome de todos os livros que escreveu. Em sua casa, a esposa estava insistindo para que se livrasse dos livros que estavam no porão, pois ela queria transformá-lo em um ateliê de pintura. Ele se queixava de não ter dedicado mais tempo à sua família.
Longos sulcos circundavam os profundos olhos daquele monge cuja atenção já não estava posta neste mundo. O que ele conheceu de Deus aqui na terra, segundo ele, era nada e esperava ansiosamente seu encontro definitivo. No entanto, é digna de nota a frase que disse aos amigos quando o interrogaram: “Eu encontrei Jesus crucificado e eu estava crucificado com Ele”.
Quem percorreu o caminho da felicidade? O que pode caracterizar uma vida feliz? O que é a felicidade?
É a pergunta que todos nós nos fazemos não só no início da vida, mas em todos os momentos dela. A história acima narra aspectos da vida que as pessoas tanto podem ter como não ter, exceto um. A saúde não é algo que todos possuem, o mesmo se pode afirmar da riqueza e nem se diga do conhecimento; mas o sofrimento faz parte da vida de todos.
Não importa o que a pessoa queira ser, o que devemos ter presente é que em qualquer estado de vida ou caminho a trilhar, sempre haverá inúmeros sofrimentos e somente aquele que for capaz de enfrentá-los, olhando para Jesus crucificado e imitando seu modo de agir, é que poderá ser feliz.
Não fomos criados para viver eternamente nesta terra. Deus nos concede dons como saúde, riqueza e inteligência para utilizarmo-nos deles com o fim de glorificá-lo.
Talvez a maior felicidade consista em poder deitar-se à noite e dormir tranquilamente, com uma consciência limpa, sem que os fantasmas das más ações rondem nosso leito, recriminando-nos pelas faltas cometidas durante o dia.
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