Que maior prova de amor poderia nos oferecer Maria? Que dúvida poderia haver em ser Ela verdadeiramente nossa Mãe? Mas, Ela não fez uma entrega passiva de seu Filho. “Junto à Cruz de Jesus estava Maria, sua Mãe, participando dos sofrimentos de seu Divino Filho. E para que sua compaixão fosse completa, Ela também considerou a causa de todas aquelas dores, ou seja, os pecados dos homens, e já então começou a interceder pela humanidade culpada. Assim, enquanto o Verbo de Deus, pregado ao Madeiro, discernia a espantosa quantidade de pecados cometidos pelos homens ao longo dos séculos, Nossa Senhora Lhe pedia o perdão para cada um deles.”[1]

“Concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no Templo, padecendo com Ele quando agonizava na Cruz, cooperou de modo singular, com a sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. É por esta razão nossa Mãe na ordem da graça”.[2]

Mãe do Homem-Deus, Ela foi Mãe de todos aqueles que nasceram para a graça através Nosso Senhor Jesus Cristo. Mãe do Redentor, Ela se tornou Mãe dos pecadores que, regenerados pelo Preciosíssimo Sangue de Cristo, foram resgatados por um preço tão alto, e que não custou apenas a seu Filho, mas também a Ela.

“Pior que a espada, transpassando a alma, não foi aquela palavra que atingiu até a divisão entre a alma e o espírito: ‘Mulher, eis aí o teu filho? (Jo 19,26). Oh! Que troca incrível! Mãe, João te é entregue em vez de Jesus, o servo no lugar do Senhor, o discípulo pelo Mestre, o filho de Zebedeu pelo Filho de Deus, o puro homem em vez do Deus verdadeiro. Como ouvir isso deixaria de transpassar tua alma tão afetuosa, se até a lembrança nos corta os corações, tão de pedra, tão de ferro?”[3]

Ao mesmo tempo que Nosso Senhor Jesus Cristo operava a redenção da humanidade, nascia a Santa Igreja de seu costado aberto. Desta dor participava Nossa Senhora. Por quê negar que Ela assim participava também do nascimento da Igreja como Mãe terníssima?

“Mãe de Cristo, Maria é também Mãe da Igreja. Maria é Mãe espiritual de toda a humanidade, porque Jesus derramou o seu Sangue na Cruz por todos, e a todos confiou da Cruz à sua solicitude materna”.[4]

Durante os três dias em que Nosso Senhor ficou no Santo Sepulcro, Maria sustentou misticamente em seus braços a recém nascida Igreja. Após a ressurreição do Senhor, Ela reuniu em torno de Si, no Cenáculo, os apóstolos, exercendo sua maternidade em relação à Igreja nascente (cf. At 1,14).

“No Cenáculo Ela aparece como Mãe do Corpo Místico de Cristo, Ela é Mãe da Cabeça no Calvário e Ela é Mãe do Corpo no Cenáculo. E essa junção entre Calvário e Cenáculo, é indispensável para nós termos uma visão ampla e profunda da nossa Fé em relação a Nossa Senhora. Ela é no Cenáculo Mãe do Corpo Místico e, portanto, Mãe da Igreja.”[5]

Mas sua maternidade não deixou de ser exercida com sua subida aos céus. “Nós acreditamos que a Santíssima Mãe de Deus e Mãe da Igreja, continua no Céu a sua função maternal em relação aos membros de Cristo, cooperando no nascimento e desenvolvimento da vida divina nas almas dos remidos”.[6]

“Esta maternidade de Maria na economia da graça perdura sem interrupção, e mesmo depois de elevada ao céu, não abandonou esta missão salvadora, mas, com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna”.[7]

Foi pelo fecundo e ininterrupto “Fiat” de Maria, em estreita união com os méritos infinitos de seu divino Filho, que a Santa Igreja nasceu.

Nossa Senhora, que soube ser tão boa e misericordiosa com seus filhos, os terá abandonado? Porque duvidar de sua bondade ilimitada, da qual Ela deu tão grandes provas? “Por mais miserável, imundo e repelente que seja o filho pecador, a Mãe de misericórdia o perdoa e roga por ele ao Senhor, aplacando a justiça divina. Advogada supremamente boa, Nossa Senhora, em favor de cada um dos pecadores que a Ela recorre, dirige a Jesus Cristo esta súplica: ‘Meu Deus e meu Filho, pelo vosso dolorosíssimo sofrimento no Calvário, pela minha Imaculada Conceição, pela minha perpétua virgindade, pelo amor que Vós sabeis que Vos tenho, peço-Vos: perdoai-o!’.

Essa contínua e ilimitada intercessão de Maria pelos homens é, sem dúvida, o meio mais seguro que temos para alcançar o perdão divino”.[8]


[1] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Trecho sem data. Arquivo ITTA.

[2] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 61.

[3] BERNARDO, São. Liturgia das Horas. Ed. Vozes/Paulinas/Paulus/Ave Maria, Vol. IV, São Paulo, 1999, p. 1281-1282.

[4] Homilia de Bento XVI em 1 de Janeiro de 2007.

[5] SCOGNAMIGLIO CLÁ DIAS. Primeira Homilia. 11 maio 2008. Arquivo ITTA.

[6] Encíclica Redemptoris Mater de João Paulo II.

[7] Cfr. Kleugten, texto reformado De mysterio Verbi incarnati, cap. IV: Mansi 53, 290. Cfr. S. André Cret., In nat. Mariae serm. 4: PG 97, 865 A. S. Germano de Constantin., In ann. Deiparae: PG 98, 321 BC; In dorm, Deiparae, III: col. 361 D.-S. João Damasceno, In dorm. B. V. Mariae, Hom. 1, 8: PG 96, 712 BC-713 A.

[8] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência para jovens. 04 abril 1980. Arquivo ITTA.