No dia 28 de novembro de 2012 foram apresentados no Vaticano os dois primeiros volumes da última obra de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, Fundador e Superior dos Arautos do Evangelho, intitulada “O inédito sobre os Evangelhos”, publicada pela Libreria Editrice Vaticana em quatro línguas: português, espanhol, italiano e inglês.
A obra divide-se em sete volumes, e comenta os Evangelhos dos domingos de todo o Ano Litúrgico de forma ao mesmo tempo inédita e consonante com os mais consagrados comentaristas da Sagrada Escritura. Na ocasião foram apresentados os volumes V e VI, referentes ao ciclo C que iniciou no dia 2 de dezembro.
O ato realizou-se no Auditório São Pio X, na Via della Conciliazione. Participaram da sessão três Cardeais, cinco Arcebispos e Bispos, e os embaixadores junto à Santa Sé do Paraguai, El Salvador e Eslovênia. Cabe destacar, entre os purpurados, o Card. Franc Rodé, CM, Prefeito emérito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostóilca, e Arcebispo emérito de Lubiana (Eslovênia), que prefaciou a obra e participou do ato como conferencista.
Honraram também a cerimônia com sua presença os Cardeais Salvatore De Giorgi, Arcebispo emérito de Palermo, e Santos Abril y Martorell, Arcipreste da Basílica de Santa Maria Maior, bem como Dom Jean Louis Bruguês, O.P., Arquivista e Bibliotecário da Santa Igreja Romana; Dom Juan Ignacio Arrieta, Secretário do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos; Dom François Robert Bacqué, Núncio Apostólico emérito na Holanda; Dom José Daniel Falla, Bispo Auxiliar de Bogotá e Secretário da Conferência Episcopal Colombiana; e Dom Giovanni D’Ercole, Bispo Auxiliar de Áquila.
O Card. Franc Rodé, na sua intervenção, ressaltou o fato de, no passado, os fundadores das ordens religiosas provirem da Europa, mas que agora – “grande e bela novidade” – eles vêm de outros continentes como a América Latina. Em relação aos dois volumes de O inédito sobre os Evangelhos, o Cardeal afirmou serem “de uma grande riqueza teológica, de uma doutrina católica segura, equilibrada, que não se limita ao que poderíamos chamar de doutrina tradicional, mas vai até o Concílio Vaticano II, sempre presente no pensamento de Mons. Scognamiglio”.
Por sua vez, Dom Jean-Louis Bruguès, ao proferir suas palavras, começou recordando sua viagem ao Brasil, onde teve a oportunidade de conhecer a obra dos Arautos. Lembrava com alegria que no meio à exuberância tropical da floresta via surgir um complexo de edifícios que tinha algo de mosteiro, de fortaleza e de academia militar. Era o Tabor, Casa Generalícia e Seminário dos Arautos, conjunto localizado na Serra da Cantareira, a 40 quilômetros do centro de São Paulo. Dizia Dom Bruguès:
“Quando entramos na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, no Tabor, uma espécie de sentimento nostálgico invade nosso espírito. As imagens, o perfume do incenso, as paredes revestidas com cores vivas, os desenhos geométricos, as pedras preciosas incrustadas nos objetos litúrgicos, os vitrais dos quais filtra uma intensa luz através das fisionomias dos santos e santas: não é esta uma reminiscência da Sainte-Chapelle de Paris? A Liturgia, na qual a música magistralmente executada parece rivalizar com o profundo recolhimento de centenas de alunos, é celebrada com solenidade. Voltamos à Idade Média? Trata-se de uma espécie de novo milagre de Loreto, pelo qual uma abadia inteira foi repentinamente transladada do Velho Continente para o coração do Novo Mundo, do outro lado do oceano?
[…]
Parece-me que o Fundador dos Arautos do Evangelho se propõe a retornar ao ponto de partida, àquele momento de plenitude da Cristandade, para dele inferir uma nova orientação, mais conforme ao Evangelho e à tradição cristã. […] Em outras palavras, o ideal da Cavalaria, tão típico do século XIII, que a arquitetura do lugar manifesta, assim como o uniforme dos alunos e o hábito dos membros dessa família religiosa, caracterizada pela grande cruz de Santiago, não teria inspirado, neste início de milênio, uma pedagogia para os adolescentes, rapazes e moças, uma teologia renovada para os religiosos e seminaristas, uma presença nova entre os mais pobres, especialmente entre os enfermos necessitados de esperança e de calor humano?
“Esse é, em minha pobre opinião, o sonho de Mons. João Scognamiglio Clá Dias. A palavra ‘sonho’ é, na verdade, imprópria porque o fundador é também um homem prático, um empreendedor realista. Seu projeto é clarividente […] Ademais, ele concebeu uma pedagogia adequada aos jovens de hoje: de fato, encontrei rapazes e moças sérios – educados em locais separados –, que se dedicam tanto ao estudo quanto à prática esportiva, felizes de compartilhar um ideal comum que os leva a dar o melhor de si mesmos. Quando esses mesmos jovens se apresentam na universidade, os professores – a princípio desconcertados pelo seu traje que parece de outra época – podem facilmente perceber que eles receberam em sua casa de origem uma formação completa, sólida, fiel à Tradição e ao Magistério, em verdadeiro espírito de liberdade pessoal; o que muitos deles me confirmaram em diversas ocasiões”.
Dom Jean-Louis Bruguès é dominicano, e foi durante cinco anos Secretário da Congregação para a Educação Católica. Ele, sob uma dupla perspectiva pedagógica e tomista, analisa a obra:
“Além disso, o Fundador instituiu o Seminário São Tomás de Aquino, depois o Instituto Filosófico Aristotélico-Tomista e, por fim, o Instituto Teológico São Tomás de Aquino. Mas era preciso superar mais um obstáculo e assegurar o que definirei como ‘formação contínua’, de constituição mais simples, destinada a muitos, a começar pelos jovens. A esse objetivo correspondem as homilias de Mons. João Scognamiglio Clá Dias”.
O Arcebispo dominicano destacou também quatro pontos na obra de Mons. João:
A particular ênfase dada mistério da Encarnação, com um constante retorno às tradições latinas, porém dotando-as de uma forte densidade emocional e espiritual; 2) o convite a realizar gestos concretos; 3) a magnífica conjugação entre composição de lugar e profundidade teológica; 4) e o fato de que o pensamento de São Tomás, de um modo ou de outro, sustenta toda a pregação de Mons. João, uma vez que o Aquinate foi a maior figura teológica do século XIII. “Nesta coletânea encontramos uma espécie de compêndio de homilias tomistas para os homens de hoje”.
E conclui o Arcebispo francês:
“No fundo, e esta é a minha conclusão, tanto estas homilias quanto as solenes liturgias antes mencionadas voltam-se para um único e idêntico objetivo: tornar o Céu mais sensível. E quem melhor que a Virgem Maria, invocada sob diversos títulos entre os quais o mais frequente é o da Virgem de Fátima, pode nos indicar esta eternidade tão próxima? É a Ela que se consagram, como cavaleiros servidores, os irmãos e as irmãs dos Arautos”.
Em seguida, Mons. Giuseppe Scotti, Presidente da Fundação Joseph Ratzinger – Bento XVI e da Libreria Editrice Vaticana (LEV), tomou a palavra afirmando que se sentia profundamente impressionado por tudo o que tinha conhecido dos Arautos. Mostrava-se ainda surpreendido pela “explosão de gótico” que encontrou na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, durante sua recente viagem ao Brasil. e afirmou haver uma relação entre esse templo, o conjunto de casas dos Arautos e a obra que estava sendo apresentada.
Essas casas são góticas apenas na aparência, porque na realidade trata-se de um estilo absolutamente novo, que poderíamos definir metaforicamente como “uma tentativa de fazer irromper o Mistério, e fazê-lo irromper nos dias de hoje”. E com os dois volumes de O inédito sobre os Evangelhos dá-se algo semelhante: basta folheá-los para perceber que se trata de algo diferente dos livros de comentários a que estamos acostumados. Na obra de Mons. João, as imagens utilizadas para ilustrar o texto têm por finalidade dizer algo do Mistério.
Nos textos, nos edifícios, no próprio hábito dos Arautos descobre-se uma unidade fortíssima, que é o caminho da via espiritual do fundador em torno de imagens que representam realidades e que ajudam a interpretar o Mistério.
Mons. Scotti interpreta a evolução arquitetônica na história dos Arautos do Evangelho como uma materialização da via espiritual proposta por Mons. João. Ao ter em mãos os dois volumes, conclui Mons. Scotti, experimenta-se o mesmo que num encontro pessoal com Mons. João:
“Pode-se dizer que o Fundador é um homem de uma doçura infinita. A cor, o mármore, a busca de tudo o que é belo se inserem numa força como que heróica, que se mostra no hábito e na postura militar, que recorda o quanto a vida do cristão é uma batalha (cf. Jó 7,1).
[…]
“O Brasil está dando um fruto que nós apenas começamos a decifrar, e este empenho da LEV em acompanhar os dois volumes que hoje apresentamos deseja dizer: eles nos ajudam a decifrar algo de novo”. Finalmente, interveio o sacerdote carmelita Edmond Caruana, Cappo Ufficio da LEV e que representou seu Diretor, Mons. Giuseppe Costa. “Vemos aqui”, começou dizendo, “dois volumes de precioso conteúdo que a LEV se sente muito honrada em apresentar”. Ele se propôs a analisá-los como censor e responsável editorial, a quem cabe colocar-se na situação do leitor. Sob essa perspectiva “vejo que o conteúdo é belo” – afirmou. A LEV e o padre Edmond, pessoalmente, analisaram com grande respeito a obra não só em razão de seu conteúdo, mas também pelo autor, pois ninguém dá aquilo que não tem. E acrescentou: “a primeira coisa que notei nestes volumes é que, de fato, quem os preparou e escreveu expressou o que leva dentro de si”.
O Pe. Caruana ainda considerou que a Santíssima Virgem é apresentada em O inédito sobre os Evangelhos como modelo de nossa fé, a tal ponto que poderíamos comparar a obra com um constante chamado de Maria, dizendo-nos: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5). Com efeito, os dois volumes escritos pelo fundador dos Arautos não fazem senão assinalar: “Fazei tudo o que o Evangelho vos disser”.
A resposta a este apelo, concluiu o sacerdote carmelita, pode ser vista personificada no hábito dos Arautos, que não é um símbolo, mas sim um sinal: “O sinal pertence à natureza do objeto. Quando vemos fumaça, por exemplo, significa que há fogo. Um símbolo pode ser modificado pela cultura, porém a vossa indumentária não. Ela é um sinal; sinal de vossa consagração para seguir a Jesus”.
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