Profeta1Flávio Roberto Lorenzato Fugyama – 3º ano teologia

Quando entramos em mercados e farmácias é comum encontrarmos junto ao caixa carteiras de cigarros à venda. Além das mais variadas cores e marcas, encontramos, em geral, uma imagem chocante com uma mensagem: “o Ministério da Saúde adverte: fumar causa câncer, embolia, etc…” Quando se compram certos produtos ou medicamentos, também a indústria admoesta que não os deixemos “ao alcance de crianças”.

Entretanto, será necessário que o Ministério da Saúde crie um cartaz semelhante para as lojas de aparelhos eletrônicos, especialmente as que vendem computadores?

Alguns fatos que pelo menos os pais e os usuários da rede mundial, entre eles o autor e o leitor deste artigo, deverão ter em mente ao navegar na internet e usar o computador:

Segundo um estudo publicado no Archives of Pediatric and Adolescent Medicine, 1.041 adolescentes chineses preencheram um questionário para identificar se acessavam a Internet e se sofriam de ansiedade ou depressão.  A grande maioria dos adolescentes utilizava a Internet corretamente (940), mas 62 (6,2%) foram classificados como internautas moderadamente viciados, ou seja, patológicos, e 2 (0,2%) como “severamente patológicos”.

Nove meses depois, a condição psicológica dos adolescentes voltou a ser avaliada e os pesquisadores descobriram que os estudantes que usavam a Internet descontrolada ou irracionalmente tinham uma propensão duas vezes e meia maior de desenvolver uma depressão do que aqueles que acessavam a rede de maneira moderada.

Após semelhante pesquisa de campo, o bielorrusso Evgeny Morozov e o colombiano Pablo Alfonso Sanabria Ferrand atestam que o uso da internet e de computadores é prejudicial para as relações sociais de seus usuários, por destruir a privacidade, facilitar a depressão, torná-los indiferentes a seus próprios atos, inseguros e com dificuldades de focar as informações. A internet pode produzir em usuários desavisados, adição, depressão e ansiedade, que se refletem em problemas na família, na escola e no trabalho[1].

Ademais, o Psiquiatra Gary Small, ao realizar experiências em dois conjuntos de pessoas que usavam internet, alguns iniciantes e outros experimentados, constatou que ambos os grupos demonstraram a mesma atividade cerebral ao ler livros impressos, mas ao navegar na internet, o grupo mais experiente demonstrou que a atividade cerebral era maior especialmente no Cortex pré-frontral do cérebro associado com a solução de problemas e tomadas de decisões. Contudo, apesar desta super excitação, que causa cansaço e desgaste físico, a parte do cérebro que corresponde ao raciocínio especulativo permanecia quase inativa. Portanto, o cérebro era usado apenas de modo superficial. Gary Small, concluiu que “a corrente explosão de tecnologia digital não somente muda o modo que vivemos e comunicamo-nos, mas rápida e profundamente altera nossos cérebros”[2]. Após 5 anos de estudo dos hábitos dos internautas, a University College of London comprovou uma forma de leitura cada vez mais superficial “a form of skimming activity”, concluindo que os usuários de internet não estão lendo segundo o “tradicional senso de leitura”[3].

Além dos neurologistas, também é expressiva a opinião da filosofia da linguagem sob a pena de Manuel Maceiras: “Vitoriosos sobre o espírito, a inegável eficácia prática dos meios no domínio psíquico e no âmbito familiar e social, induziu a rápida conclusão de endossar à sua influência os processos de despersonalização, irresponsabilidade e perda de identidade. […] A juízo da neurologia atual, acelera o funcionamento de suas camadas e circuitos superficiais e faz mais lento os mais profundos, fomentando um tipo de pensamento descontínuo, débil, discursivamente desconexo”.[4]

Este é um fator que deve ser considerado a nível mundial. De acordo com o estudo da Internet World Stats, em 2009, 1,73 bilhões de pessoas possuíam acesso à Internet, o que representa 25,6% da população mundial. Segundo a pesquisa, a Europa detinha quase 420 milhões de usuários, mais da metade da população on-line. Como é natural, quanto menos tardia é a industrialização em um país, menor é o uso da rede mundial. Cerca de 60% da população na Oceania, América do Norte e Europa tem o acesso à Internet, enquanto que esse percentual é reduzido para 6,8% na África. Na América Latina e Caribe, de seus 569 milhões de habitantes, 30% (quase 175 milhões de pessoas) possuíam em 2009 o acesso à Internet, sendo que 67,5 milhões eram brasileiros[5].

A nível individual, talvez estes dados contribuam para o leitor refletir um pouco no modo de usar a rede mundial, e regulamentar com disciplina as navegações pela internet.

 

Duc in altum, navegar sim, mar alto, enquanto pescadores de homens. Será que se passássemos tanto tempo em oração e apostolado, quanto passamos em frente ao computador, não seriamos santos e as igrejas não estariam mais cheias? Talvez… Entretanto, uma coisa é certa. Tanto para a oração, quanto para a Evangelização, não existem contra-indicações. Quanto mais, melhor!!!

 


[1] Cf. FERRAND, Pablo Alfonso Sanabria. Características Psicológicas de consumidores de Cibersexo: Uma aproximación. Acta colombiana de Psicologia. n. 12, Nov. 2004. p. 19-38.

[2] “The current explosion of digital technology not only is changing the way we live and communicate, but is rapidly and profoundly altering our brains.”

^ http://www.wired.com/magazine/2010/05/ff_nicholas_carr/all/1

[3] “It is clear that users are not reading online in the traditional sense; indeed there are signs that new forms of “reading” are emerging as users “power browse” horizontally through titles, contents pages and abstracts going for quick wins. It almost seems that they go online to avoid reading in the traditional sense.” (UNIVERSITY COLLEGE LONDON. Information behaviour of the researcher of the future. 11 Jan. 2008. London. Report. p. 7).

[4] (MACEIRAS, Manuel. Metamorfosis del Lenguaje. Madrid: Editorial Síntesis. p. 429)

[5] Cf. WOLRD INTERNET USERS AND POPULATION STATS. Disponível em:   www.internetworldstas.com/stats10.htm Acesso em: 30 Set. 2009. Segundo a pesquisa da Cia publicada em 2009 no World Factbook, quanto mais o pais industrializado, mais seus habitantes consomem internet. Fato que coincide sob os dados dos usuário de internet nos quinze países do mundo com maior população católica. Nos países mais desenvolvidos ou industrializados, EUA (70%, 231 milhões usuários), França (65%, 42 milhões), Espanha (60%, 25 milhões), Polonia (50%, 18 milhões) Itália (45%, 24 milhões); Países em desenvolvimento as porcentagens são menos reduzidas mas em continuo aumento como  Brazil (30%, 67 milhões), México (20%, 23 milhões), Colombia (40%, 17 milhões), Argentina (20%, 11 milhões), Venezuela (35%, 7 milhões) e Peru (25% 7 milhões). Filipinas e África possuem naturalmente menores índices: Filipinas (7%, 5 milhões), Nigéria (4%, 11 milhões) e Congo (290 mil usuários). Os resultados são semelhantes ao anarlisarmos as outras evoluções tecnológicas como celulares, computadores, carros e demais invenções da revolução industrial.