Francisco Teixeira de Araújo
O “conhecimento” nos seres irracionais
Contemplando o mundo mineral, vemos que se passam certos fenômenos físicos, como por exemplo, a cristalização, a mudança de forma e de cor causados por diversos fatores.
No entanto, os minerais não tomam conhecimento do que se passa com eles, porque são simples matéria inanimada. As transformações que eventualmente possam sofrer dependem de fatores extrínsecos e, portanto, não conhecem as alterações que sofrem.
No plano vegetal não há somente matéria como nos minerais, mas há algo de impalpável que é a vida. As plantas crescem, se desenvolvem, dão flores, frutos e sementes. A vida leva-as pela força do heliotropismo a buscar o sol, e suas raízes crescem em direção aos lugares onde há mais umidade.
Mas também os vegetais não têm consciência do que neles se passa. As transformações que sofrem não resultam de um raciocínio a partir do qual eles operam buscando o sol ou a umidade. Portanto, não são consequências de um conhecimento prévio, pois eles não têm capacidade de conhecer.
Quanto ao reino animal, além da matéria mineral e vegetativa, possuem um grau de vida superior, que não é espiritual, mas imaterial: são capazes de movimentos guiados por instintos que os preservam e beneficiam. É admirável ver como certos animais possuem tal ordenação, que parecem ser realmente inteligentes.
Entretanto, estas reações instintivas não resultam de um conhecimento pleno. Pode-se dizer que os animais obram como que conhecendo, mas essa noção é uma ideia imperfeita que não resulta de uma elaboração racional, pois tudo neles é limitado à satisfação de suas necessidades elementares. Seus instintos são guiados pelas “notícias” do mundo externo e pela memória de acontecimentos agradáveis ou repulsivos.
Conhecimento humano e angélico
Já os seres humanos possuem vida dependente de algo que é inteiramente espiritual: a alma. Assim, o homem, sofrendo também as limitações que a matéria impõe à parte espiritual, é capaz de conhecer. Embora o homem conheça através dos seus cinco sentidos, ou seja, através dos órgãos que captam as informações do mundo exterior, suas faculdades cerebrais ou os próprios sentidos impõem-lhe certas limitações. Isto faz com que seu conhecimento não seja absoluto, mas paulatino e limitado.
Como o seu corpo e a sua alma formam uma só unidade, as próprias manifestações da alma dependem da integridade do corpo. Assim, uma pessoa que tenha lesões cerebrais importantes, tal como se verifica, por exemplo, na doença Alzheimer, se torna pouco a pouco incapaz de conhecer e, portanto, de agir por si próprio.
Por outro lado, o homem conhece a si mesmo de modo gradual, lento e parcial, mas jamais sua própria totalidade.
No mundo impalpável, sublime e misterioso dos Anjos o conhecimento de todas as coisas não sofre as limitações da matéria. Sendo puros espíritos têm, portanto, uma possibilidade mais elevada do que os homens de conhecer. Seu conhecimento não é gradual como dos homens, mas imediato.
Todavia, também os anjos são seres criados e, portanto, limitados. Desse modo, o conhecimento deles, embora muito mais perfeito que o humano esbarra na limitação própria à natureza angélica.
O conhecimento absoluto
Nessas considerações sobre as várias escalas da criação, constata-se que os seres têm tanto mais possibilidades de conhecer, quanto mais são espirituais e, inversamente, tanto menos quanto mais matéria neles existe. A inteligência que reluz de certo modo em cada ser do universo é uma imagem do conhecimento perfeito e absoluto, que é o conhecimento de Deus.
O Criador é o ser espiritual por excelência, portanto, não tem matéria que limite a sua atuação; de outro lado, Deus não tem limitação alguma, pois não é criatura e sim Criador e, como tal, necessariamente infinito. É n’Ele que todas as coisas existem, e portanto, Ele conhece tudo em Si mesmo. As criaturas todas deixariam de existir se, por hipótese absurda, Deus deixasse de conhecer e sustentar cada ente a todo instante.
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