Usando uma metáfora meramente ilustrativa, poderíamos dizer que São Tomás voou pelo universo da especulação apoiado em duas asas: a Revelação e a Filosofia. Ambas asas, porém, não gozam da mesma “auctoritas”, pois, o dado da Revelação nos vêm de Deus, que sendo a Verdade Absoluta, nunca poderá nos enganar. Portanto, a Fé na Revelação, ainda que sem excluir a razão, se sobrepõe a ela, completando-a e esclarecendo-a:

“Até mesmo com relação ao que a razão humana pode pesquisar a respeito de Deus, era preciso que o homem fosse também instruído por Revelação Divina. Com efeito, a verdade sobre Deus pesquisada pela razão humana chegaria apenas a um pequeno número, depois de muito tempo e cheia de erros. No entanto, do conhecimento desta verdade depende a salvação do homem, que se encontra em Deus, assim, para que a salvação chegasse aos homens, com mais facilidade e maior garantia, era necessário fossem eles instruídos a respeito de Deus por uma Revelação Divina”. (S. Th. I, q.1, a. 1). [1]

Mas tal é a integração de ambos conhecimentos para São Tomás (natural e sobrenatural) que, no seu comentário ao Credo, o Aquinate, ao explanar o primeiro artigo do símbolo breve – “Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra” – cita as Sagradas Escrituras, em concreto o Livro da Sabedoria, censurando aqueles que desconhecem a Deus, apesar de admirar suas obras. Mostra como a Revelação não descarta a via natural para alcançar a ideia da existência de Deus:

“São insensatos por natureza todos os que desconheceram a Deus, e, através dos bens visíveis, não souberam conhecer Aquele que é, nem reconhecer o Artista, considerando suas obras.

“Tomaram o fogo, ou o vento, ou o ar agitável, ou a esfera estrelada, ou a água impetuosa, ou os astros dos céus, por deuses, regentes do mundo.

“Se tomaram essas coisas por deuses, encantados pela sua beleza, saibam, então, quanto seu Senhor prevalece sobre elas, porque é o criador da beleza que fez estas coisas.

“Se o que os impressionou é a sua força e o seu poder, que eles compreendam, por meio delas, que seu criador é mais forte; pois é a partir da grandeza e da beleza das criaturas que, por analogia, se conhece o seu autor.” (Sab. 13, 1-5).

Na Revelação bíblica encontramos muitas outras passagens referentes a este tema. Dá-se por certo a possibilidade de o homem encontrar o Criador ao contemplar as coisas criadas. Basta lembrar a célebre passagem da epístola aos Romanos, na qual São Paulo censura os pagãos, nos versículos 20-32, mostrando a inexcusabilidade daqueles que vendo as obras visíveis do Criador não quiseram reconhecer suas perfeições invisíveis.

É a Revelação, pois, que nos indica claramente a capacidade humana de possuir a certeza da existência de Deus por vias naturais.

Por isso São Tomás, que define a Teologia como verdadeira ciência na primeira questão da primeira parte da Suma Teológica, passa a demonstrar por via da razão, e não só apoiado no argumento da autoridade da Fé, a existência de Deus, o que fará remontando pelos efeitos até à causa: “sempre que um efeito é mais manifesto do que sua causa, recorremos a ele a fim de conhecer a causa” (S.Th. I, q. 2, a.2). [2]

1. A prova do movimento.

São Tomás, na questão segunda da primeira parte da Suma, pergunta-se se Deus é ou existe – “utrum Deus sit” – e responde afirmativamente no sed contra, citando o livro do Êxodo: “Ego sum qui sum – Eu sou aquele que sou” (3, 14). Passa em seguida à demonstração da existência de Deus por cinco vias. Nosso trabalho limita-se apenas “à primeira, e a mais clara” (S. Th. I, q. 2, a.3), a que parte do movimento.

Eis o trecho da Summa Theologiae:

“Pode-se provar a existência de Deus, por cinco vias. A primeira, e a mais clara, parte do movimento. Nossos sentidos atestam, com toda a certeza, que neste mundo algumas coisas se movem. Ora, tudo o que se move é movido por outro. Nada se move que não esteja em potência em relação ao termo de seu movimento: ao contrário, o que move o faz enquanto se encontra em ato. Mover nada mais é, portanto, do que levar algo da potência ao ato, e nada pode ser levado ao ato senão por um ente em ato. Como algo quente em ato, por exemplo o fogo, torna a madeira que está em potência para o calor, quente em ato, e assim a move e a altera. Ora, não é possível que a mesma coisa, considerada sob o mesmo aspecto, esteja simultaneamente em ato e em potência, a não ser sob aspectos diversos: por exemplo, o que está quente em ato, não pode estar simultaneamente quente em potência, mas está frio em potência. É impossível que sob o mesmo aspecto e do mesmo modo algo seja motor e movido, ou que mova a si próprio. É preciso que tudo o que se move seja movido por outro. Assim, se o que move é também movido, o é necessariamente por outro, e este ponto por outro ainda. Ora, não se pode continuar até o infinito, pois neste caso não haveria um primeiro motor, por conseguinte, tampouco outros motores, pois os motores segundos só se movem pela moção do primeiro motor, como o bastão, que só se move movido pela mão. É então necessário chegar a um primeiro motor, não movido por nenhum outro, e este, todos entendem: é Deus.” (S. Th. I, q. 2, a.3 – Grifo nosso.) [3]

O trecho grifado contém o resumo da argumentação do Aquinate, haurida de Aristóteles. Por um lado, parte-se do axioma aristotélico de que “tudo o que se move é movido por outro” e conclui-se a existência do primeiro motor pela impossibilidade de “continuar até o infinito” sem considerar um motor que efetivamente possa mover sem ser movido, sem nenhuma potencialidade, pois, caso a tivesse, cairia no absurdo.

Como vemos, São Tomás alinha-se com Aristóteles em boa parte da sua argumentação; porém, passa por alto sobre a questão da eternidade do mundo, em decorrência da qual, chegar-se-ia à eternidade do primeiro motor.

2. Alguns pressupostos gerais.

Antes de analisarmos mais detidamente o suco da argumentação tomista, pareceu-nos interessante retomar alguns aspectos gerais do discurso do Aquinate. Será útil situar-nos no contexto geral das vias e especificamente da primeira, que nos ocupa especialmente.

Menciona-se na introdução deste capítulo que São Tomás pretende chegar a Deus através dos seus efeitos, isto é, da criação material, possível de captar pelos nossos sentidos[4].

Para São Tomás, segundo explicam ANTISERI e REALE, “Deus é o primeiro na ordem ontológica, mas não na ordem gnosiológica. Mesmo sendo o fundamento de tudo, Deus deve ser alcançado por caminhos a posteriori, isto é, partindo dos efeitos do mundo. Assim, se na ordem ontológica Deus precede suas criaturas como a causa precede os efeitos, na ordem gnosiológica ele vem depois das criaturas, no sentido de que é alcançado a partir da consideração do mundo, que remete ao seu autor. O ponto de partida de cada via, de quando em vez, é constituído por elementos extraídos da cosmologia aristotélica que Tomás utiliza, confiante em sua eficácia persuasiva, num momento em que o aristotelismo era a filosofia hegemônica. Mas a força probatória dos argumentos em particular é toda e sempre de índole metafísica, e assim pretende permanecer em situações científicas diversas.”[5]

Portanto, é possível chegar ao conhecimento de Deus, tendo como ponto de partida as criaturas consideradas sob o prisma metafísico, numa ótica realista. Trata-se de um método científico, baseado na experiência da nossa observação, – como nos diz São Tomás no caso específico da primeira via, do movimento: “nossos sentidos atestam, com toda a certeza, que neste mundo algumas coisas se movem” – e, também, na lógica e no raciocínio como ferramentas de trabalho baseados nos primeiros princípios do pensamento. CASTAGNOLA e PADOVANI assim nos explicam:

“As provas tomistas da experiência de Deus são cinco; mas todas tem em comum a característica de se firmar na evidência, para proceder à demonstração, como a lógica exige. E a primeira dessas provas – que é fundamental e como que norma para as outras – baseia-se diretamente na doutrina da potência e do ato. Cada uma delas se firma em dois elementos, cuja solidez e evidência são igualmente incontestáveis: uma experiência sensível, que pode ser a constatação do movimento, das causas, do contingente, dos graus de perfeição das coisas ou da ordem que entre eles reina; e uma aplicação do princípio de causalidade, que suspende o movimento ao imóvel, as causas segundas à causa primeira, o contingente ao necessário, o imperfeito ao imperfeito, a ordem à inteligência ordenadora. (…)”

Nos trechos grifados condensa-se o esquema geral das cinco vias. Considera-se a evidência – toda ciência parte dela – somada à aplicação do princípio de causalidade. Vejamos a aplicação do modelo geral ao caso concreto da primeira via:

“Da relação entre a potência e o ato, entre a matéria e a forma, surge o movimento, a mudança, o vir-a-ser, a que é submetido tudo que tem matéria, potência. A mudança é, portanto, a realização do possível. Esta realização do possível, porém, pode ser levada a efeito unicamente por um ser que já está em ato, que possui já o que a coisa movida deve vir-a-ser, visto ser impossível que o menos produza o mais, o imperfeito o perfeito, a potência o ato, mas vice-versa. Mesmo que um ser se mova a si mesmo, aquilo que move deve ser diverso daquilo que é movido, deve ser composto de um motor e de uma coisa movida. Por exemplo, a alma é que move o corpo. O motor pode ser unicamente ato, forma; a coisa movida – enquanto tal – pode ser unicamente potência, matéria. Eis a grande doutrina aristotélica do motor e da coisa movida, doutrina que culmina no motor primeiro, absolutamente imóvel, ato puro, isto é, Deus.”[6]

Com relação a isso, GARRIGOU-LAGRANGE amplia, com exemplos, os tipos de movimentos aos quais pode estar se referindo São Tomás, desde o dos corpos inanimados, das plantas, dos animais, da inteligência humana, até o da nossa vontade.

Também nos mostra em detalhes o processo da observação do filósofo, que o leva, mediante interrogações, à conclusão de que o movimento tem de ser causado, e que a causa é um primeiro motor.

“O ponto de partida da argumentação de São Tomás é o fato certo e comprovado da existência do movimento no mundo: movimento local dos corpos inanimados; movimento qualitativo do calor que aumenta ou diminui; movimento evolutivo das plantas; movimento do animal que apetece o alimento e atrás dele corre; movimento da inteligência humana que passa da ignorância do ato de entender, primeiro de uma maneira confusa, e por fim distintamente; movimento da nossa vontade espiritual, que, não querendo primeiro um objeto, logo o apetece, e o deseja com ardor; movimento de nossa vontade, a qual, querendo o fim, quer logo os meios que a ele conduzem. (…)

“Aqui na terra tudo está submetido ao movimento ou à mudança, não somente os indivíduos, mas também as nações, os povos, as instituições. E quando um movimento chega ao limite, vem outro a suceder-lhe, como uma onda do mar é seguida por outra, como uma geração suplanta a outra: movimento que os antigos significaram na roda da fortuna, que abate a uns para levantar a outros. Será que tudo passa e nada permanece? Que a inconsistência é a lei sem exceção? Ou haveremos de dizer que nada há estável e absolutamente fixo?

“Como explicar o fato do movimento? (…) Pode a pedra por si mesma colocar-se em movimento, sem que alguém a jogue no espaço, ou sem que outro corpo a atrai-a? Pode o metal frio por si mesmo adquirir temperatura mais elevada, sem um foco de calor que efetue dita transformação térmica? (…)

“Todo movimento, já corpóreo, já espiritual, necessita uma causa, o móvel não se move sem motor. O motor pode ser interno, como o coração do animal; mas se por sua vez o motor é movido, necessita outro motor superior; o coração que pára de bater na morte, não pode de novo pôr-se em movimento. Seria preciso que interviesse o autor da vida, que a deu e conservou o movimento até o desgaste do organismo.

Todo movimento exige um motor: tal é o princípio mediante o qual esclarece São Tomás o fato geral do movimento.”[7]

Eis, em termos acessíveis e claros, a indagação do filósofo movido pela evidência do movimento. O Pe. Garrigou-Lagrange, nos leva assim, a uma reflexão simples mas profunda sobre o tema. E nada melhor que “ir a Tomás”, como nos disse o Saudoso Papa Pio XI, em sua encíclica Studiorum Ducem, para completar o périplo da indagação.[8]

3. Mais um aporte de São Tomás.

Acudamos a outra obra do santo. Encontramos, por exemplo, referências muito didáticas ao primeiro motor, no seu Compêndio de Teologia.

Esta obra de São Tomás, como nos diz TORREL, é bem pouco conhecida. Nela podemos comprovar um São Tomás diferente, pois ele usa um estilo mais próximo ao de São Boaventura. Em síntese, este Compendium se preocupa com a simplicidade e a brevidade. São Tomás o escreveu com o intuito de fazer dele um “Credo”, ou seja, um resumo, da Teologia.

Assim nos diz SÃO TOMÁS:

“O primeiro que devemos crer sobre a unidade divina é que existe Deus, verdade que a mesma razão humana percebe com a maior evidência. Vemos que todas as coisas que se movem são movidas por outras: as inferiores pelas superiores, como os elementos pelos corpos celestes. (…) Esta comunicação de movimentos não pode prolongar-se até o infinito porque, como tudo o que é movido por outro é como um instrumento do primeiro motor, não havendo primeiro motor, seria instrumento tudo o que comunicasse movimento. Se a comunicação do movimento fosse infinita, não existiria o primeiro motor; e se assim fosse, não haveria mais que instrumentos nessa série infinita de seres que se movem e são movidos. Não há homem, por ignorante e simples que seja, que não conheça quão absurdo e ridículo seria supor que um instrumento tem atividade própria para mover-se, sem havê-la recebido de um agente principal. Isto equivaleria ao intento daquele que se propusesse construir uma arca ou uma cama, deixando que trabalhassem sozinhos a serra e os demais instrumentos, sem a ação do carpinteiro. É, por conseguinte, absolutamente necessário que exista um primeiro motor, princípio de todo movimento. E a esse primeiro motor é o que chamamos Deus. (…)

“Se Deus, que é o primeiro motor, recebesse movimento, ou receberia de Si mesmo, ou de um agente estranho. Se Deus recebesse o movimento de outro agente, haveria um motor superior a Ele; e isto repugna a natureza do primeiro motor. E se o recebesse de Si mesmo, o receberia em virtude de uma destas duas hipóteses: ou porque seria motor e movido sob um mesmo aspecto, ou porque seria motor segundo um aspecto, e movido sob outro. A primeira destas hipóteses é impossível, porque tudo o que é movido está, pelo mesmo, em potência, e tudo o que move, em ato. Se Deus fosse motor e movido debaixo de um mesmo aspecto, deveria estar também sob a mesma razão em potência e em ato, o que é impossível. Tampouco é admissível a segunda hipótese: porque se fosse debaixo de um aspecto, motor e debaixo de outro, movido, não seria primeiro motor seu por si mesmo, senão em virtude daquela parte sua que tem a força motriz. Mas, como o que é por si mesmo é anterior e preferente ao que não o é, não pode ser primeiro motor seu, se só o é em virtude daquela parte que tem força motriz. Daqui resulta que o primeiro motor tem de ser inteiro e absolutamente imóvel. (…)

“É necessário, por conseguinte, que o que é primeiro princípio de todo movimento, seja inteiro e absolutamente imutável.”[9]

Vemos neste trecho do Compêndio, que São Tomás explicita os argumentos da primeira prova e coincide na constatação da evidência de que tudo o que se move é movido por outro, e até mesmo com ênfase ressalta este dado: “Não há homem, por ignorante e simples que seja que não conheça quão absurdo e ridículo seria supor que um instrumento tem atividade própria para mover-se, sem havê-la recebido de um agente principal”, e exemplifica a enfática tese com um exemplo simples, mas elucidativo: não há a arca ou a cama sem carpinteiro.

Por outro lado, vemos a sua abonação na especulação: Ele dá o nome ao primeiro motor “que chamamos Deus”. Aristóteles não o faz. Vê-se a segurança do teólogo confirmando a lógica do metafísico.

Também explica que “se Deus, que é o primeiro motor, recebesse movimento, ou receberia de Si mesmo, ou de um agente estranho”, esclarecendo que é impossível ter no primeiro motor qualquer potencialidade, que implicaria ou num motor dependente de outro, instrumental, ou se trataria de dois motores. E conclui que “tudo o que é movido por outro é como um instrumento do primeiro motor”. Fica explicado, portanto, o porquê Deus é verdadeiramente imóvel, descartando qualquer hipótese de composição de ato-potência ou de motor-movido.

* Trecho extraído do segundo capítulo da monografia: Motor Imóvel: Uma das provas da existência de Deus segundo São Tomás de Aquino.

Por Felipe Isaac Paschoal Rocha


[1] Ad ea etiam quae de Deo ratione humana investigari possunt, necessarium fuit hominem instrui revelatione divina. Quia veritas de Deo, per rationem investigata, a paucis, et per longum tempus, et cum admixtione multorum errorum, homini proveniret, a cuius tamen veritatis cognitione dependet tota hominis salus, quae in Deo est. Ut igitur salus hominibus et convenientius et certius proveniat, necessarium fuit quod de divinis per divinam revelationem instruantur.

[2] Cum enim effectus aliquis nobis est manifestior quam sua causa, per effectum procedimus ad cognitionem causae.

[3] Quod Deum esse quinque viis probari potest. Prima autem et manifestior via est, quae sumitur ex parte motus. Certum est enim, et sensu constat, aliqua moveri in hoc mundo. Omne autem quod movetur, ab alio movetur. Nihil enim movetur, nisi secundum quod est in potentia ad illud ad quod movetur, movet autem aliquid secundum quod est actu. Movere enim nihil aliud est quam educere aliquid de potentia in actum, de potentia autem non potest aliquid reduci in actum, nisi per aliquod ens in actu, sicut calidum in actu, ut ignis, facit lignum, quod est calidum in potentia, esse actu calidum, et per hoc movet et alterat ipsum. Non autem est possibile ut idem sit simul in actu et potentia secundum idem, sed solum secundum diversa, quod enim est calidum in actu, non potest simul esse calidum in potentia, sed est simul frigidum in potentia. Impossibile est ergo quod, secundum idem et eodem modo, aliquid sit movens et motum, vel quod moveat seipsum. Omne ergo quod movetur, oportet ab alio moveri. Si ergo id a quo movetur, moveatur, oportet et ipsum ab alio moveri et illud ab alio. Hic autem non est procedere in infinitum, quia sic non esset aliquod primum movens; et per consequens nec aliquod aliud movens, quia moventia secunda non movent nisi per hoc quod sunt mota a primo movente, sicut baculus non movet nisi per hoc quod est motus a manu. Ergo necesse est devenire ad aliquod primum movens, quod a nullo movetur, et hoc omnes intelligunt Deum.

[4] Teremos de passar por alto a explicação dada pelo próprio autor, mais adiante na Suma Teológica, a respeito da impossibilidade de o intelecto humano intuir diretamente a essência divina (S. Th. I, q. 84), por fugir do escopo do nosso trabalho.

[5] ANTISERI, Dario; REALE, Giovani. História da Filosofia: patrística e escolástica. Tradução de Ivo Stomiolo. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2005. p. 222,223.

[6] CASTAGNOLA, Luís; PADOVANI, Humberto. História da Filosofia. 7. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1967. p. 128-129,238. Grifo nosso.

[7] GARRIGOU-LAGRANGE, Reginald, Pe. La providencia y la confianza en Dios. Tradução de Pe. Jorge de Riezu. 2. ed. Buenos Aires: Desclée, 1945. p. 12, 13, 14 e15. Tradução e grifo nosso.

El punto de partida de la argumentación de Santo Tomás es el hecho cierto y comprobado de la existencia del movimiento en el mundo: movimiento local de los cuerpos inanimados; movimiento cualitativo del calor que aumenta o disminuye; movimiento evolutivo de las plantas; movimiento del animal que apetece y tras él corre; movimiento de la inteligencia humana que pasa de la ignorancia al acto de entender, primero de una manera confusa, y por fin distintamente; movimiento de nuestra voluntad espiritual, que, no queriendo primero un objeto, luego lo apetece, y lo desea con ardor; movimiento de nuestra voluntad, la cual, queriendo el fin, quiere luego los medios que a él conducen.

Acá en la tierra todo está sometido al movimiento o a la mudanza, no solamente los individuos, mas también las naciones, los pueblos, las instituciones. Y cuando un movimiento llega al límite, viene otro a sucederle, como una ola del mar es seguida por otra, como una generación desplaza a otra: lo cual los antiguos significaron en la rueda de la fortuna, que abate a unos para ensalzar a otros. ¿Será quizá que todo pasa y nada permanece? ¿Qué la inconsistencia es ley sin excepción? ¿O habremos de decir que nada hay estable y absolutamente fijo?

¿Cómo explicar el hecho del movimiento? ¿Puede la piedra de por sí ponerse en movimiento, sin que alguien la arroje en el espacio, o sin que otro cuerpo la atraiga? ¿Puede el metal frío de por sí adquirir temperatura más elevada, sin un foco de calor que efectúe dicha transformación térmica?

Todo movimiento, ya corpóreo, ya espiritual, necesita una causa; el móvil no se mueve sin motor. El motor puede ser interno, como el corazón del animal; pero se a su vez el motor es movido, necesita otro motor superior; el corazón que cesa de latir en la muerte, no puede de nuevo ponerse en movimiento. Sería preciso que interviniera el autor de la vida, que le dio y conservó el movimiento hasta el desgaste del organismo.

Todo movimiento exige un motor: tal es el principio mediante el cual esclarece Santo Tomás el hecho general del movimiento.

[8] “A todos quantos agora sintam fome da verdade, Nós lhes dizemos: ‘Ide a Tomás’, a pedir-lhe o alimento da sã doutrina, da qual ele tem opulência para a vida sempiterna das almas.” Disponível em: <http://www.vatican.va/holy_father/pius_xi/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_19230629_studiorum-ducem_it.html>. Acesso em: 07 dez. 2007, 10:30hs. Tradução minha.

[9] AQUINO, São Tomás de. Compendio de Teologia. Tradução de Jose Ignácio Saranyana e Jaime Restrepo Escobar. Madrid: Rialp, 1980. p. 45, 46 e 47. Tradução e grifo nosso.

Lo primero que debemos creer sobre la unidad divina es que existe Dios, verdad que la misma razón humana percibe con la mayor evidencia. Vemos que todas las cosas que se mueven son movidas por otras: las inferiores por las superiores, como los elementos por los cuerpos celestes.

(…) Esta comunicación de movimientos no puede prolongarse hasta el infinito porque, como todo lo que es movido por otro es como un instrumento del primer motor, no habiendo primer motor, sería instrumento todo lo que comunicara el movimiento. Si la comunicación del movimiento fuera infinita, no existiría el primer motor; y si así fuera, no habría más que instrumentos en esa serie infinita de seres que mueven y son movidos. No hay hombre, por ignorante e sencillo que sea, que no conozca cuán absurdo y ridículo sería suponer que un instrumento tiene actividad propia para moverse, sin haberla recibido de un agente principal. Esto equivaldría al intento de aquel que se propusiera construir un arca o un lecho, dejando que obraran solas la sierra y demás instrumentos, sin la acción del carpintero. Es, por consiguiente, absolutamente necesario que exista un primer motor, principio de todo movimiento. Y a ese primer motor es al que llamamos Dios.

(…) Si Dios, que es el primer motor, recibiera movimiento, o lo recibiría de Sí mismo, o de un agente extraño. Si Dios recibiera el movimiento de otro agente, habría un motor superior a El; y esto repugna a la naturaleza del primer motor. Y si lo recibiera de Sí mismo, lo recibiría en virtud de una de estas dos hipótesis: o porque sería motor y movido bajo un mismo aspecto, o porque sería motor según un aspecto, y movido bajo otro. La primera de estas hipótesis es imposible, porque todo lo que es movido está, por lo mismo, en potencia, y todo lo que mueve, en acto. Si Dios fuera motor y movido bajo un mismo aspecto, debería estar también bajo la misma razón en potencia y en acto, lo cual es imposible. Tampoco es admisible la segunda hipótesis: porque si fuese bajo un aspecto motor y bajo otro movido, no sería primer motor suyo por sí mismo, sino en virtud de aquella parte suya que tiene la fuerza motriz. Pero, como lo que es por sí mismo es anterior y preferente a lo que no lo es, no puede ser primer motor suyo, si sólo lo es en virtud de aquella parte que tiene fuerza motriz. De aquí resulta que el primer motor ha de ser entera y absolutamente inmóvil.

(…) Es necesario, por consiguiente, que lo que es primer principio de todo movimiento, sea entera y absolutamente inmutable.