Um monge beneditino conta o seguinte fato: encontrava-me na feira de uma pequena cidade medieval chamada Chateau d’Eau, na França, e gostava muito de admirar e de prestar atenção no que os outros transeuntes faziam, num determinado dia ouvi algo  muito edificante, meditei profundamente e comentei com os outros monges.

 Era uma quinta feira. Reparei que havia uma senhora acompanhada de sua filha, uma menina que olhava e admirava tudo com um olhar inocente, parecia-me que olhava tudo aquilo tudo por primeira vez. Porém ela tinha algo de diferente de outras crianças ela só olhava e prestava atenção no que era bonito e maravilhoso.

Quando voltei para o mosteiro comentei a inocência que vi naquela menina e todos ficaram admirados, pois era mais uma inocência que se conservava em meio ao povo.

Na semana seguinte fui ansioso para feira-livre para ver se encontrava a pequena garotinha com seus olhar puro a brilhar. Desta vez encontrei-a encantada por uma boneca, trabalhada em porcelana e que estava vestida de rainha com um belo báculo em sua mão direita. A menina começou a pedir insistentemente para sua mãe dar-lhe de presente a boneca. Entretanto, a mãe não queria dar, num primeiro instante, a boneca para sua filha; ela queria com isso provar e testar a menina para ver se ela gostaria de ter mesmo aquele presente, ou se era mero capricho. Mas a mãe conhecendo a pequena menina, sabia que ela queria a boneca por ser muito bonita e além do mais era uma rainha, e depois de tanta persistência conseguiu o presente de sua mãe.

Deste fato tirei uma grande lição de vida espiritual, a lição é a seguinte: percebi que o mesmo acontece com Deus em relação a nós e às nossas orações. Quantas vezes ouvimos a seguinte frase: rezo, rezo, rezo mais Deus não me atende. Mas se Deus nos diz que seremos sempre atendidos e não o somos, quer dizer que o problema está em nós, pois se pedimos algo que seja para a nossa salvação, Deus infalivelmente nos dará o que Lhe pedimos, nos conseguirá tudo o que precisarmos. E o que Ele nos pede para que sejamos atendidos é a nossa persistência incansável. Assim Ele mesmo nos ensina: “Se algum de vos tiver um amigo, e for ter com ele à meia noite e lhe disser: Amigo empresta me três pães, porque um amigo meu acaba de chegar de viagem à minha casa e não tenho nada que lhe dar; e ele respondendo vos disser: Não me sejas importuno a porta já esta fechada, os meus filhos já estão deitados; não me posso levantar para de dar coisa alguma. Se o outro perseverar em bater, digo-vos que, ainda que ele se não levantasse a dar-lhos, por ser seu amigo, certamente pela sua importunação se levantará e lhe dará quantos pães precisar.” (Lc 11,5-8)

Deste mesmo modo devemos agir com Nosso Senhor, pois Ele não se irrita conosco por ser importunos e Lhe pedirmos tudo o que precisamos, pois: “Deus é o primeiro a chamar o homem. Ainda que esqueça o seu Criador ou se esconda longe de sua Face, ainda que corra atrás de seus ídolos ou acuse a divindade de tê-lo abandonado, o Deus vivo e verdadeiro chama incessantemente cada pessoa ao encontro misterioso da oração.”[1]

Oração no Horto das Oliveiras, Giotto

O evangelista São Marcos nos narra um fato belíssimo sobre a oração: “Naquele tempo, Jesus saiu e foi para região de Tiro e Sidônia. […] Uma mulher, que tinha uma filha com um espírito impuro, ouviu falar de Jesus. Foi até ele e caiu a seus pés. A mulher era pagã, nascida na Fenícia da Síria. Ela suplicou a Jesus que expulsasse de sua filha o demônio. Jesus disse: ‘Deixe primeiro que os filhos fiquem saciados, porque não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos’ A mulher respondeu: ‘É verdade, Senhor, mas também os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem as migalhas que as crianças deixam cair’.

“Então Jesus disse: ‘Por causa do que acabas de dizer, podes voltar para sua casa. O demônio já saiu de sua filha’. Ela voltou para casa e encontrou sua filha deitada na cama, pois o demônio já havia saído dela.” (Mc 7,24-30)

 Neste pequeno trecho do evangelho nos é possível extrair várias lições. Se observarmos bem, vemos uma tenacidade no ato de pedir, pois ela sabia que os judeu desprezavam os outros povos. Entretanto ela com confiança procurou ao Divino Mestre para fazer sua súplica diante d’Ele para que assim sua filha fosse libertada do demônio que a possuía. Santo Afonso Maria de Ligório conhecido como o “Doutor da Oração” – por ter escrito um livro chamado A oração, grande meio de salvação – citando São Tomás, nos dá as principais condições para que Deus atenda as nossas orações: “Que se reze com devoção e perseverança. Com devoção quer dizer com humildade e confiança; com perseverança, quer dizer, sem deixar de rezar até a morte. Estas condições, humildade, confiança e perseverança, são as mais necessárias à oração…”[2]

Mas quando levamos uma vida de piedade bem regrada o demônio, vendo a miséria humana nos coloca a seguinte tentação, que é um dos problemas mais comuns no início da vida espiritual: será que estou agindo bem com Deus? Será que não estou sendo demasiadamente importuno?

 Pelo contrário Deus gosta de ser importunado; é doutrina dos Padres da Igreja que o melhor meio de agradecermos a Deus e pedir sempre mais.

Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto. Porque todo aquele que pede, recebe; quem busca acha. (Mt. 7,7-8)

Depois de tantos exemplos podemos concluir que, com a oração Deus nos dá o céu, nos faz santos; basta pedirmos! Nosso Senhor nos dá tudo.

São Bernardo nos estimula a sempre recorrermos a Nossa Senhora afirmando justamente que Ela nunca deixa de nos atender: “Lembrai-vos ó piíssima Virgem Maria, de que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido a vossa proteção, implorado vossa assistência e reclamado vosso socorro, fosse por vos desamparado. Animado eu, pois, com igual confiança, a Vós, ó Virgem entre todas singular, como Mãe recorro, de Vós me valho, e, gemendo sob o peso de meus pecados, me prostro aos vossos pés. Não desprezeis as minhas suplicas, ó Mãe do Verbo de Deus humanado, mas dignai-Vos de as ouvir propicia e de me alcançar o que Vos rogo. Assim seja”[3].

Por Felipe Zoghaib


[1] C IC Ed, São Paulo, Brasil, 1999. Art. 2567

[2] LIGÓRIO, Santo Afonso Mareia de. A oração. Aparecida 

[3] PRECES, Pro opportunitate diciendæ. Ed. Retornarei.São Paulo,2005.