“O homem começa a existir na morte desde o momento em que começa a existir no corpo” com esta frase implacável um dos maiores Padres da Igreja delimita a breve existência do homem sobre a terra. A morte é um fato que tem intrigado os homens ao longo dos séculos, sobretudo aqueles que não conheceram o que doutrina católica explicitou a respeito da morte ou que, tendo-a conhecido, fizeram caso omisso dela. De fato, a Igreja purificou o conceito da morte, descartando tudo aquilo que provoca medo, e até mesmo, desespero; pois o catolicismo aponta, no post mortem, para um ideal mais alto e triunfante, que são a ressurreição da carne e a vida eterna.

A Igreja ensina que a morte é a separação da alma do corpo. Isto acontece devido a que, com o passar dos anos, os órgãos corpóreos (coração, pulmões, fígado, etc.) vão se desgastando, a tal ponto que, cedo ou tarde, o organismo já não pode exercer as funções da vida; por isto a alma – princípio vital (espiritual e imortal) – se separa do corpo. Ainda que seja brutal e dolorosa, devido ao pecado de Adão e Eva (cf. Sab 2, 23ss e Rm 5, 12), a morte, para o católico, não deixa de ser um fenômeno natural e passageiro.

Sendo, porém, um castigo pelo pecado de nossos primeiros pais,  Deus não abandonou o homem à sua triste sorte. “Em tempo oportuno, o próprio Deus assumiu a carne humana; tomou sobre si a morte com todas as angústias precursoras e ressuscitou; assim Jesus Cristo venceu a morte e dela nos libertou.”

De fato, com este triunfo de Jesus sobre a morte em favor do gênero humano, com a qual abriu as portas do Céu para nós, a morte já não constitui uma mera sanção, mas é a nossa passagem para a vida com “v maiúsculo”, a Vida eterna e definitiva.

Para nós católicos, não há mais propriamente morte. E inclusive todos os demais sofrimentos assim considerados, vem a ser um rejuvenescimento ou uma antecipada participação da glória de Cristo e que verdadeiramente hão de nos levar à vida eterna e à glória definitiva. “Sofrer e morrer significam, para o cristão, estender à sua carne os sofrimentos e a morte de Cristo vitorioso; por isto o mesmo Apóstolo pode afirmar: ‘Enquanto o nosso homem exterior vai definhando, o nosso homem interior se vai renovando de dia a dia’.” (2Cor 4, 16)

Não é sem razão que a morte assim afrontada levava certos santos a ter arroubos de entusiasmo fazendo-os, até, desejá-la ardentemente: “Vem oh morte, tão escondida, que eu não te sinta vir, para que a felicidade de morrer não me restitua a vida”; “Aquela vida lá de cima, que é a vida verdadeira, até que essa vida morra não se pode obter; morte, não se esquive de mim.” Santa Teresinha do Menino Jesus ao ser indagada pelo Sacerdote, que a assistia no leito de morte, se estava resignada a morrer, respondeu: “Resignada? Não, meu padre; resignação precisa-se para viver, mas não para morrer… O que tenho é uma grandíssima alegria”.

No concílio Vaticano segundo, vários são os momentos nos quais se trata sobre a morte, como no nº 48 da Lumen Gentium onde, inspirando-se no Apóstolo das gentes, afirma-se que a ressurreição com a transformação gloriosa de nossos corpos terá lugar quando Cristo venha em sua última vinda. Até esse momento teremos já uma retribuição de acordo com nossos méritos. No nº 49, ainda do mesmo documento, se aborda a questão da comunhão dos santos (comunhão da Igreja peregrina, padecente e triunfante entre si) a qual tem lugar já antes da vinda gloriosa do Senhor. E ainda no nº 50 trata-se sobre como deve ser nossa relação com os santos do céu.

Já na Gaudium et Spes fala-se sobre a semente de imortalidade existente no homem e que é irredutível à mera matéria. No nº 39 se declara que o reino já está presente  misteriosamente na terra, mas há de se consumar sua perfeição na parusia.

Em 1979 a congregação para a doutrina da fé expediu uma carta na qual definia alguns pontos concernentes à escatologia. Transcrevemos aqui os mais importantes:

1. A Igreja crê numa ressurreição dos mortos (cf. Símbolo dos Apóstolos)

2. A Igreja entende que a ressurreição se refere a todo o homem: para os eleitos não é senão a extensão da mesma ressurreição de Cristo à humanidade.

3. A Igreja afirma a sobrevivência e a subsistência, depois da morte, de um elemento espiritual, dotado de consciência e de vontade, de tal modo que o eu humano subsista, ainda que sem corpo. Para designar esse elemento, a Igreja emprega a palavra alma, consagrada pelo uso que dela fazem a Sagrada Escritura e a Tradição. Sem ignorar que este termo é tomado na Bíblia em diversos sentidos, Ela julga, não obstante, que não existe qualquer razão séria para o rejeitar e considera mesmo ser absolutamente indispensável um instrumento verbal para sustentar a fé dos cristãos.

4. A Igreja, em conformidade com a Sagrada Escritura, espera a gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Dei Verbum, nº 14), que ela considera como distinta em relação àquela condição própria do homem imediatamente após a morte.

A mesma congregação pediu à do Culto Divino que se respeitassem, nas traduções ao vernáculo do símbolo apostólico, o original que rezava “ressurreição da carne” pois havia alguns que traduziam por “ressurreição dos mortos”, o que poderia danificar a fé católica que acredita na ressurreição “desta carne”.

A Igreja defendeu desde o princípio a subsistência da alma depois da morte e a ressurreição dos corpos no final da história, após o intervalo da fase intermediária na qual a alma encontra-se em estado de violência. Fica claro também que a Igreja entende com ressurreição do corpo a restauração completa deste mesmo corpo com o qual vivemos e lutamos no curso de nossas vidas terrenas.

Pe. Hernán Cosp Bareiro, EP