Raphaël Six
“Ego sum via et veritas et vita; nemo venit ad Patrem nisi per me” (Jo 14,6). – Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai senão por mim. – Em todos os tempos essas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo se fazem atuais, pois todo homem tem em si um senso que o leva a buscar a felicidade como um fim estável em sua vida. Mas será que todos os homens encontram o que ambicionam?
Para aquele que crê em Deus e em Nosso Senhor, a resposta saltaria aos olhos numa única pincelada. Dir-se-ia que esta constante perplexidade humana estaria solucionada, para todos aqueles que sabem buscar a Nosso Senhor Jesus Cristo.
No entanto, como encontrá-lo uma vez que Ele, após ter cumprido o plano redentor na cruz e de ter ressuscitado ao terceiro dia, subiu aos céus para sentar-se a direita do Pai? Como seria possível ter um convívio com tão grande Mestre que andava pela Galiléia curando os doentes, perdoando os pecadores e ensinando as multidões, e Lhe pedir um conselho, uma ajuda, um perdão? Onde estará Ele?
Se lermos atentamente os evangelhos, poderemos encontrar um vestígio que nos permitirá solucionar os problemas acima expostos. São Mateus, São Marcos e São Lucas nos narram um episódio importantíssimo da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo: a última ceia. Na perspectiva de Sua paixão e morte, Cristo instituiu a Sagrada Eucaristia para fortificar os apóstolos e desse modo ensiná-los a enfrentar as inúmeras dificuldades pelas quais deveriam passar. A Eucaristia serviria, não somente, para aqueles trágicos instantes que antecediam sua paixão, mas também seria utilizada depois, pelos próprios apóstolos, em todas as dificuldades e necessidades que eles teriam que enfrentar. Portanto, os apóstolos contaram com um grande consolo para a edificação do Reino de Deus e a pregação da Boa Nova: o próprio Cristo, em corpo, sangue, alma e divindade, presente e velado nas espécies do pão e do vinho.
Foi por meio desse alimento que Nosso Senhor Jesus Cristo pôde dar continuidade a sua obra; prolongar sua permanência nesta terra e ajudar a todos aqueles que estão em alguma aflição e que almejam um contato pessoal com Ele.
Mas por que foi este meio que Cristo escolheu para ficar entre nós?
O grande bispo de Hipona, Santo Agostinho, nos dá uma explicação. Diz ele que todo homem é capaz de perceber a verdade e a vida, mas não encontra por si o caminho que conduz a elas. Foi somente com o Verbo de Deus que se obteve o caminho, quando se revestiu de nossa natureza. Por isso, Ele quis deixar-se aos homens, antes de subir aos céus, enquanto caminho acessível à Verdade e à Vida, que é a Santíssima Eucaristia
Ademais, todos sabem que quanto mais um discípulo se relaciona com o seu mestre, mais ele o conhece, mais ele o ama e mais ele adquire o seu espírito e sua mentalidade. E na medida em que se sente semelhante ao mestre, se sente feliz, pois percebe que está cumprindo sua finalidade que é estudar e aprender o que o seu mestre lhe instruiu. Do mesmo modo acontece com uma pessoa que recebe Cristo sacramentado: Quanto mais o recebe, mais o conhece, o ama e adquire o seu espírito. Porque por meio desse alimento celeste se relaciona com Deus, autor de todas as coisas criadas e de todas as verdades eternas. Portanto, a pessoa se assemelhará a Ele e cumprirá assim sua finalidade terrena que é amar, louvar e servir a Deus com todo o seu entendimento e com toda a sua vontade.
Quantos Santos ao longo da história não tiveram uma experiência disso com o convívio Eucarístico? Basta lermos suas vidas e delas concluiremos que a felicidade deles consistiu em amar a Deus sobre todas as coisas. Por isso eles eram felizes, pois cumpriam o preceito deixado pelo próprio Cristo: “aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele (Jo 6,57)”. Na permanência desse amor eles encontraram o repouso de suas almas e por isso não se preocupavam mais com essa vida passageira e terrena, pois aquele que vai ao encontro ao alimento dos Anjos não terá mais fome, e aquele que crer nele não terá mais sede (Cf. Jo 6,35).
Logo, se queremos encontrar a verdadeira felicidade, devemos seguir o caminho deixado pelo Divino Mestre na última ceia: a Eucaristia. Nela está contido o rumo que devemos tomar para ganharmos o céu; a verdade que nos aconselhará e nos servirá de sustento nas adversidades desta vida; e por fim, o alimento que nos levará a conquista da vida eterna na união plena com Deus. É o que prescreveu, por assim dizer, o Divino Mestre ao afirmar: “Eu sou o caminho a verdade e a vida”. Aproximemo-nos desse alimento salutar deixado pelo próprio Cristo, que nos conduz à vida eterna; nos sustenta e nos traz a verdadeira felicidade.
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