Necessidade da correção

Conta-se que na Idade Média um homem justo e temente a Deus, dono de uma fazenda, descobriu que seu filho mais velho tinha sido gravemente negligente no cumprir uma ordem sua, pondo em risco toda a família, e, sobretudo, a honra de seu pai e o respeito que lhe devia. Então, o pai o chamou, e interrogou-o sobre o referido, certificando-se de que era mesmo real.

Com dor no coração, o pai após uma grave e séria reprimenda, deu ao filho o castigo de arar todo um campo que fazia parte da imensa propriedade. O filho, com muito pesar, levantou-se bem cedo para iniciar o trabalho, que julgou demasiado grande para sua falta. Qual não foi sua surpresa quando do lado oposto do campo, onde ele se encontrava para começar o trabalho, vê seu pai que com outro arado inicia o cumprimento da pena que ele próprio impusera ao filho.

Este fato, real ou não, é muito eloqüente para compreendermos o seguinte provérbio: “Aquele que poupa a vara a seu filho o odeia; aquele que o ama, corrige-o continuamente.” (Pr 13, 24).

Correção: princípio de sabedoria

Este sábio provérbio praticado tão eficazmente outrora foi aos poucos sendo substituído pela máxima, helás, tão comumente aplicada em nossa civilização, de que a correção tolhe a liberdade da pessoa, provocando com isso sua falta de personalidade, e outros desvios congêneres.

Não é o que nos ensina o Divino Mestre: “Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir terás ganhado teu irmão” (MT 18,15).

Tanto crédito se tem dado a certos pensadores modernos, sobre seus métodos de ensino, educação e formação das crianças, e quão pouco caso se faz das divinas palavras do Salvador, Homem Deus, a própria Sabedoria eterna e encarnada.

Tendo Nosso Senhor Jesus Cristo pronunciado essas “palavras de vida eterna”, não se trata de comprovar sua eficácia, ou sua superioridade em relação a tantos dogmas hodiernos, pois para os que temos fé, isso seria uma discussão “bizantina”, ou seja, inútil. Evidentemente esse é o melhor método de educação dos filhos ou subalternos, melhor conselho aos irmãos e amigos e maior prova de caridade por todos quanto amamos.

Divinas correções: fonte de eterna salvação

Já no Antigo Testamento vemos essa divina maneira de Deus atuar. Encontramos no livro de Judite, sob inspiração do Espírito Santo: “Demos graças ao Senhor nosso Deus, que nos submete a provações, como fez a nossos pais. Lembrai-vos de tudo o que fez a Abraão, de como provou Isaac, de tudo o que aconteceu a Jacó. Assim como os provou pelo fogo para lhes experimentar o coração, assim também Ele não se está vingando de nós. É antes para advertência que o Senhor açoita os que dele se aproximam.” (Jt 8,25-26a.27)

Também contemplamos a mesma doutrina no Novo Testamento: “Sede perseverantes sob o castigo. Deus trata-vos como filhos. E qual é o filho a quem seu pai não corrige? Se, porém, estais isentos do castigo, do qual todos são participantes, então sois bastardos e não filhos legítimos” (Hb 12, 7-8).

Deus nos corrige através das tribulações

Quando vemos pesar sobre nós alguma provação ou castigo não devemos pensar que estamos sendo objetos da cólera divina. Pelo contrário, devemos nos alegrar, pois Deus não se esqueceu de nós.

Assim, podemos dizer que Deus é não apenas o Pai de toda consolação, mas também de toda tribulação, pois por meio desta, Ele nos corrige. Se nos castiga é com o fim de nos emendarmos, pois “não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e tenha vida”. (cf. Ez 33,11)

Depois do pecado original o sofrimento passou a fazer parte integrante, como um elemento fundamental, na vida dos homens. Como diz o Prof. Plinio Correa de Oliveira “Eu compreendi que só vale a alma que tem amor ao sofrimento. Por quê? Porque o sofrimento é desagradável, mas no contato com ele, no contato com a cruz de Nosso Senhor a alma se limpa, as molezas fogem e a retidão do juízo se restabelece. A pessoa passa a ter coragem e anda. A fonte de energia é a cruz.”

Em outra ocasião ele diria que Deus tinha dado a Adão no paraíso tudo. Adão tinha todas as regalias, os animais o serviam, ele não sofria fome, cansaço ou doenças, Deus descia todos os dias às tardes para conviver com ele. Mas no paraíso ainda faltava uma coisa, um herói! Deus queria que no paraíso tivesse um herói e por isso permitiu que Adão fosse tentado.

Ele não passou na prova, mas Deus não desistiu do plano de dar ao homem o dom de ser herói. Aqueles que passam pela vida sem contrariedades dificilmente vão para o céu. É mau sinal não ter sofrimentos nesta vida.

Todas estas provações que Deus permite ou envia para corrigir o homem não só são indispensáveis, mas trazem muitas alegrias. Tantas alegrias que provocam saudades, e doces recordações, além da gratidão a Deus por ter-nos corrigido e evitado que nos desviássemos do caminho do inferno.

Mas há ainda outra questão: os homens devem se corrigir uns aos outros?

Responderemos na próxima semana…