Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
Também nós fomos beneficiados por incontáveis dons com a Ascensão. Segundo São Leão Magno, passamos a conhecer melhor Jesus a partir do momento em que Ele retornou às glórias do Pai. Nossa fé, “mais esclarecida, aprendeu a elevar-se pelo pensamento, sem necessidade do contato com a substância corporal de Cristo, na qual Ele é menor que o Pai, dado que, embora permanecendo a mesma substância do corpo glorificado, a fé dos fiéis é convidada a tocar, não com a mão terrena, mas com o entendimento espiritual, o Unigênito, igual Àquele que O engendrou. É este o motivo pelo qual o Senhor, após a Ressurreição, disse a Madalena — que representava a pessoa da Igreja —, ao aproximar-se para tocá-Lo: ‘Não me toques, pois ainda não subi ao meu Pai’ (Jo 20, 17). Quer dizer, não quero que procures minha presença corporal nem que me reconheças com os sentidos carnais; chamo-te para coisas mais elevadas, destino-te a bens superiores. Quando subir a meu Pai, Me tocarás de forma mais real e verdadeira, tocando no que não apalpas e crendo no que não vês” (Serm. 74 in Sermones escogidos, Ed. ASPAS, Madrid, p. 139.).
Fortalecimento da fé
Demonstra-nos São Tomás de Aquino que, privando-nos de sua presença corporal, ao penetrar na glória eterna, Jesus Cristo tornou-se ainda mais útil para nossa vida espiritual. Primeiro, “para aumento da fé, que é sobre o que não se vê. Por isso, o próprio Senhor diz no Evangelho de João que o Espírito Santo, ao vir, ‘arguirá o mundo a respeito da justiça’, ou seja, da justiça ‘dos que crêem’, como diz Santo Agostinho: ‘A própria comparação dos fiéis com os infiéis é uma censura’. Por isso, acrescenta: ‘Porque Eu vou para o Pai e não Me vereis mais, pois são bem-aventurados os que não vêem e crêem. Será nossa a justiça, de que o mundo será arguido, porque credes em Mim, a Quem não vedes’” (Suma Teológica III, q. 57, a.1 ad 3).
A esse propósito, São Gregório Magno externa sua convicção: “Com sua facilidade em crer, Maria Madalena nos aproveita menos do que Tomé duvidando por muito tempo, porque este, em meio a suas dúvidas, exigiu tocar as cicatrizes dessas chagas, e com isso nos tirou todo pretexto para vacilação” (Homilía 29).
Aumento da esperança
Em segundo lugar, “para reerguer a esperança”, pois, “pelo fato de Cristo ter elevado ao Céu sua natureza humana assumida, deu-nos a esperança de lá chegarmos, porque ‘onde quer que esteja o corpo, ali se reunirão as águias’, como diz Mateus. Por isso, diz também o livro de Miquéias: ‘Já subiu, diante deles, Aquele que abre o caminho’” (Suma Teológica, III, a. 1 ad 3).
Abrasamento da caridade
Uma terceira razão, ainda segundo São Tomás, torna a Ascensão mais benéfica a nós do que a própria presença física de Nosso Senhor, e esta se refere à caridade. Na seqüência dessa mesma questão da Suma, o Doutor Angélico, a fim de nos mostrar as vantagens para essa virtude, cita São Paulo: “Por isso, diz o Apóstolo: ‘Procurai o que está no alto, lá onde Se encontra Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas de cima, não às da terra’, pois, como foi dito, ‘onde estiver o teu tesouro, ali também estará o teu coração’” (Id., a. 1, ad 1). E, após discorrer sobre o amor enquanto propriedade do Espírito Santo e a respeito da grande necessidade que dele tinham os Apóstolos, termina com esta citação de Santo Agostinho: “Não podeis receber o Espírito enquanto persistirdes em conhecer a Cristo segundo a carne. Pois quando Cristo Se afastou corporalmente, não só o Espírito Santo, mas também o Pai e o Filho estavam espiritualmente em presença deles” (In Io. Tr. 94: PL 35, 1864.)
(CLÁ DIAS, João Scognamiglio. A Ascensão do Senhor. (Trecho). Revista Arautos do Evangelho. A. 6. N. 65. Maio de 2007. p. 19).
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